quinta-feira, 1 de março de 2012

"TROIKICES"

       Há uns dias ouvi o secretário geral do PS fazer uma afirmação em que eu não queria acreditar: que não foi ele que assinou o programa de assistência financeira com a "troika". Bom, que não foi ele, bem o sabemos. Mas esta afirmação revela uma enorme irresponsabilidade e falta de sentido de Estado. Irresponsabilidade porque um dos poucos trunfos de que Portugal dispõe para ir percorrendo o seu calvário sem maiores percalços é o de ter e mostrar que tem uma ampla base de apoio ao cumprimento do acordo que foi celebrado e que há coesão social e política que a suporte. Ora esta afirmação levanta enormes interrogações e dúvidas sobre a determinação da manutenção dessa coesão e apoio. Falta de sentido de Estado precisamente por pôr em causa a estabilidade política e paz social necessárias à prossecução e bom resultado final do acordo celebrado e originado, é bom lembrar, pelo seu próprio partido. Ou não é isso que se pretende, que ele resulte? Queremos antes enveredar pelo caminho da Grécia? Então se um dia for primeiro ministro, vai pôr em causa as leis ou normas que foram votadas e assinadas antes, por outros? Com esta linha de pensamento, nas empresas, cada vez que mudasse o conselho de administração, se o novo não concordasse com contratos anteriormente assinados deixava de os cumprir? Ou que tal, um banco alterar a taxa de juro, as comissões cobradas e outras cláusulas num contrato de empréstimo, e o actual gerente da agência justificar-se que não tem nada que ver com isso porque não foi ele que assinou o contrato, foi o anterior?
       Pessoalmente, acho que a afirmação não reflecte o que ele pensa verdadeiramente, até porque até agora tem sempre dito o conrário. É apenas uma tentativa para conseguir aquilo que já todos perceberam que não consegue: ter mão no partido. E actualmente cai sempre bem dizer que a troika é a responsável por todos os males que afligem o país, mesmo que o país vá funcionando com os cheques que essa mesma troika assina de três em três meses. É que se o PSD está cheio de barões, uns barrosistas, outros cavaquistas, marcelistas, santanistas, passistas, mendistas, ou, talvez até quem sabe, ferreiraleitistas, o PS por seu turno, está cheio de senadores, uns guterristas, outros sampaístas, soaristas, alegristas, socratistas e seguristas. E tão ou mais difícil que governar o país, é por vezes gerir e refrear tantas tendências, tantos interesses instalados e jogos de poder em que se transformaram os principais partidos em Portugal.

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