domingo, 30 de dezembro de 2012

SEMPRE O DESPERDÍCIO...

    Foi divulgado esta semana um estudo na Alemanha que estima a necessidade deste país recorrer a 1,7 milhões de profissionais com habilitação superior, nos próximos 7 anos, vindos de fora do seu território, por insuficiência de quadros formados nas suas universidades, especialmente nas áreas das engenharias e das ciências. Sabendo-se a elevada cotação que os engenheiros portugueses têm actualmente a nível internacional e a subida em todos os rankings, do ensino superior público português a que se junta a universidade católica, e o fenómeno do desemprego provocado pelo colapso da economia portuguesa, estamos mesmo a ver onde os alemães se irão abastecer de profissionais altamente qualificados e baratíssimos. Baratíssimos para eles, claro está! Aparentemente, a notícia é boa. Tomáramos nós ter saídas profissionais para os nossos jovens. Já que não as temos dentro de portas, pois que se arranjem lá fora. Mas este é mais um exemplo bem doloroso do desperdício e da falta de planificação que caracteriza as sociedades mais pobres. Há uns anos atrás, ouvíamos frequentemente lamentos com diversas origens, mencionando o facto de o nosso país não se desenvolver porque tínhamos falta de quadros qualificados e uma reduzida percentagem de estudantes universitários. Ouvíamos simultaneamente dizer que o desenvolvimento era impossível porque não tínhamos infraestruturas rodoviárias que permitissem boas e rápidas ligações do litoral ao interior. Pois em poucos anos invertemos completamente esta realidade. Construímos auto-estradas por todo o lado, onde era preciso e onde não era. De 4 universidades públicas, passámos a 15, mais as privadas. Institutos politécnicos nasceram como cogumelos, com delegações e pólos ramificados por cidades e vilas. Inventámos cursos e especializações, licenciaturas, mestrados e doutoramentos. Modernizámo-nos tanto que hoje temos auto-estradas mas não há lá carros e temos milhares de jovens bem preparados com todos os graus académicos, mas não têm emprego ou saídas profissionais. E o cúmulo do desperdício é andarmos a pedir dinheiro emprestado para, por exemplo, financiar universidades que formam bons quadros que logo que se apanham com o diploma na mão, procuram emprego na Alemanha, Suiça, Inglaterra ou Holanda, que assim escusam de investir dinheiro seu na formação dos profissionais de que necessitam. Ganham de duas maneiras: cobrando juros onzenários pelo dinheiro que nos emprestam e levando de borla os quadros que nós formamos... A minha bisavó dizia: "Com o desgoverno da minha vizinha, construí eu a minha casinha"...

domingo, 16 de dezembro de 2012

PM - DEMAGOGIA E INSENSATEZ

     O primeiro ministro fez hoje afirmações no congresso da JSD que considero absolutamente lamentáveis e indignas de um primeiro ministro de um país europeu, para não dizer mais.
      Convém aqui dizer que me parece haver actualmente uma autêntica cruzada contra os reformados em Portugal. Há dentro e fora do governo quem queira fomentar a hostilidade contra este segmento de população que já deu o seu contributo para que hoje apesar de tudo tenhamos um país e uma sociedade muito mais justa e em melhor situação do que há umas décadas atrás. Afirmou hoje o PM no congresso da JSD, num ambiente em que era preciso argumentos falaciosos para agradar a jovens, que os pensionistas estão a receber mais do que descontaram. Já aqui comentei neste blogue há uns dias atrás, sobre um artigo de Miguel Sousa Tavares, que este discurso está errado. E está errado porque parte do princípio que a reforma dos funcionários públicos é apenas proveniente dos seus descontos, esquecendo que a parte correspondente à entidade patronal (o Estado), nunca foi feita. Portanto se o Estado nunca efectuou a contribuição que lhe pertencia, terá que a fazer agora, não está a fazer nenhum favor a ninguém. E já demonstrei com contas, que os descontos pagam bem a reforma até para além da esperança média de vida. É de fácil acolhimento o discurso de cortar nas reformas de valor elevado. Mas convém não esquecer que, tirando muitos políticos que estão a receber reformas sem terem descontado o suficiente, os outros descontaram elevadas quantias ao longo da sua vida contributiva. São mais elevadas as do sector público? Porque nunca puderam fugir! Quantos no sector privado declararam sempre o ordenado mínimo e sobre ele descontaram, enquanto ganhavam efectivamente muito mais que qualquer funcionário? E por esse motivo têm hoje contas bancárias de dezenas ou mesmo centenas de milhar de euros? O PM não sabe disto? Talvez não, porque a experiência de vida dele é quase nula.
     Numa assembleia de jovens é fácil ser-se aplaudido quando se utilizam argumentos vergonhosos para um PM, como dizer que as reformas são pagas pelos jovens de hoje que talvez não tenham reformas um dia. E os reformados de hoje, não foram eles que pagaram as reformas da geração anterior? Este sistema não funcionou sempre na lógica da solidariedade geracional? Pode ser diferente? E eu pergunto ao PM, que ainda é um jovem: o pai dele, não lhe deu uma vida muito melhor do que a que ele próprio teve na sua juventude? Deveria ter-lhe dado uma refeição por dia e toda a sorte de privações como as que passaram na geração anterior? Pergunto eu ainda: se os meus filhos questionarem politicamente estarem hoje a pagar a minha reforma, poderei eu responder-lhes que na mesma linha de pensamento eu deveria ter questionado gastar o que gastei com a sua educação? Não teria o mesmo direito? Não foi a actual geração de jovens tratada principescamente pelos seus pais como nenhuma outra o foi jamais em Portugal? E se pagarem agora a reforma dos seus pais, como sempre aconteceu aliás, estão a fazer algum favor?
     Acho que se está a ultrapassar todos os limites da decência. Este discurso não é digno de um PM de um país europeu. Provoca clivagens perigosas na sociedade portuguesa, coloca velhos contra novos, privados contra públicos, como se houvesse vários países e não apenas um. Se PPC tem contas privadas a ajustar com o PR e com alguns barões do seu partido, que as resolva em privado, não introduzindo ainda mais factores de instabilidade e de potencial conflito na sociedade portuguesa que já está à beira do limite. Não sei que recalcamentos de juventude terá contra o sector público, mas que toda esta sanha dirigida a empresas e a funcionários públicos e reformados merecia uma análise psicológica profunda, lá isso merecia. E se quer aplicar ao país um programa que é exactamente o oposto daquele que submeteu a sufrágio e para o qual recebeu mandato, que peça a demissão e se recandidate sem máscaras. É mau para o país? Não sei. Já não tenho certezas de nada. A Grécia tem andado de crise em crise política e só tem recebido ajudas e perdões. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O OUTRO LADO DA CRISE

     Ando cansado deste ambiente depressivo, pessimista e derrotista que está instalado na sociedade portuguesa. Os telejornais, redes sociais, imprensa escrita e rádios, andam cheios de notícias e debates onde só se ouvem e vêem relatos de miséria, casos de fome, contas por pagar, crédito malparado, encerramento de empresas, desemprego, deficientes cuidados de saúde, peditórios, solidariedade apregoada aos quatro ventos, desânimo. Por isso, no passado domingo, ao contrário do que é meu hábito, deixei-me arrastar para um centro comercial em Lisboa. Com a situação geral do país, certamente estas catedrais de consumo estariam longe das enchentes a que sou totalmente avesso. Entrámos de carro para o estacionamento subterrâneo. Logo aí, a primeira surpresa: os dois primeiros andares, vastíssimos, estavam já completos. Tivemos que descer até ao piso -3 e aí arranjar lugar. Depois, o caos: escadas rolantes completamente apinhadas, os corredores cheios de gente ávida de sacos na mão, as lojas regurgitavam de clientes, as zonas de lugares sentados dos restaurantes e bares totalmente ocupadas... Bem, talvez fossem pessoas apenas a passear... Mas, e as filas em todas as lojas, para pagar?
     Saímos para o piso -3, em busca do carro. Engarrafamento para sair, de tal modo que as barreiras de saída estavam levantadas e controladas pelos seguranças para não entupir completamente o fluxo de trânsito. Lá fora, tudo completamente parado com milhares de automóveis parados à espera de uma nesga para escapar...

     Finalmente conseguimos sair da zona e circular um pouco mais desafogadamente. E eu vinha de facto muito mais aliviado e intimamente repetindo uma frase que o meu pai muitas vezes proferia: "Deus Nosso Senhor nunca nos dê menos do que temos hoje"... Amén!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O METRO DO PORTO

      O Metro do Porto faz hoje 10 anos. Pois então, parabéns! Objecto de muita polémica desde a sua concepção, construção e exploração, por ser caro, por ser luxuoso demais, por não ter o traçado ideal, por o número de passageiros ser muito inferior ao estimado, enfim, por existir. É verdade que tirou milhares de carros do centro da cidade, o que em termos ambientais e da qualidade de vida é sempre de enaltecer. Mas os custos de exploração são desastrosos. Em 2011 o prejuízo foi de 397 milhões de euros e a dívida acumulada nestes 10 anos já vai em 2500 milhões!

        Hoje, na celebração do aniversário, fizeram-se umas entrevistas de rua. Um dos entrevistados, utente habitual do Metro, referia o conforto, a rapidez no acesso ao centro da cidade e... O reduzido preço dos bilhetes.

        Esta semana saiu um estudo sobre o custo para o Estado, de cada veículo que passa nas ex-SCUT. No caso da A-24, cada carro tem um custo de 79€ para o país. A introdução de portagens nestas vias teve como base o princípio do utilizador-pagador. Por não ser justo os portugueses que não têm carro, pagarem com os seus impostos as estradas que os outros utilizam. Sempre concordei com este princípio, que no entanto é facilmente transformado em demagogia e é perigoso. É que se for para ser levado mesmo a sério, tem que ser aplicado a tudo e a todos. Se os que não têm carro não têm que pagar as auto-estradas que não utilizam, porque é que eu que vivo em Peniche tenho que pagar o Metro do Porto? E o de Lisboa? E o prejuízo da CP? E o da Refer? E o da Carris? E se não quero saber de futebol porque tenho que pagar os 10 estádios que se construiram e que agora apodrecem em boa parte? E os que não gostam de música, porque é que têm que pagar o CCB e a Casa da Música?

         Os governos têm que governar para todos os portugueses e têm que tentar ser justos e cuidadosos na repartição de benefícios e de custos. Não se pode cair na tentação do populismo e demagogia fáceis. É verdade que se exagerou na construção de auto-estradas, algumas bem dispensáveis. Mas agora não se podem deitar fora. E as portagens que foram introduzidas, logo de início se viu que eram caríssimas. O resultado está à vista: as auto-estradas estão vazias e as antigas estradas nacionais, ao lado, voltaram aos seus tempos áureos.
       Devem portanto os governantes, quando tomam decisões e definem opções de investimento, ter em conta a coesão social e territorial, o desenvolvimento equitativo do país e não ceder à tentação de privilegiar Lisboa que elege 47 deputados, ou Porto com 39, em detrimento da Guarda ou Castelo Branco, que elegem 4 cada. E este é que é o verdadeiro motivo porque se fazem obras faraónicas numas zonas enquanto se fecha tudo o que ainda funciona, noutras. São os custos da democracia, meus caros!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA

      Já aqui escrevi sobre a insustentabilidade da nossa dívida pública e de, na minha opinião, ser impossível pagá-la sem que haja um perdão parcial, como aconteceu à Grécia. Estamos todos fartos de ouvir, desde há 2 anos, que não somos a Grécia, que somos muito diferentes, etc, mas o que é certo é que temos percorrido todo o seu calvário apenas com 15 meses de atraso. Os nossos credores sabem que mais tarde ou mais cedo terão que nos fazer o mesmo e por isso querem que paguemos até lá o máximo possível de juros para minimizarem o seu prejuízo. A nossa dívida pública em Setembro passado era de 190 mil milhões de euros. O PIB português de 2011, situou-se nos 171 mil milhões. Como o nosso défice anual anda sempre acima dos 4% e o PIB tem vindo a encolher, é claro que o rácio da dívida vai aumentando de ano para ano. Já aqui previ que no final de 2013 não andará longe dos 130% do PIB, embora as previsões oficiais apontem para 123%...
      Ficámos sem acesso aos mercados, obrigando-nos a recorrer a um resgate financeiro, por não acreditarem na possibilidade de pagarmos o que devemos. E com toda a razão, acrescento eu! Mas porque não o fizeram antes? A UE tem regras, desde Maastricht, uma delas obriga a que a dívida pública dos estados não exceda 60% do seu PIB. Porque não nos "encostaram" nessa altura? Porque continuaram a emprestar-nos dinheiro que estava a infringir regras? Eu sou contra a desculpabilização de quem se endividou, mas esta é a verdade. Quando se aconselham os particulares a não ultrapassar 40% da sua taxa de esforço, é para os proteger a si e às instituições credoras. E os estados? Porque deixaram passar o limite de endividamento para o dobro sem severas sanções?
       Os bancos estão agora a colher o fruto da sua irresponsabilidade e ganância ao emprestarem muitas vezes dinheiro a quem não deviam. E os países? Alguém acredita que nós vamos continuar a conseguir pagar mais de 8 mil milhões por ano em juros com o país em recessão crescente? Gostava que os cérebros brilhantes no governo e nas instâncias europeias me explicassem como! Os portugueses estão fartos da "conversa da treta". Que não queremos renegociar, que isso seria o apocalipse, que nos colaria à Grécia. O que vai acontecer é que vamos destruir toda a economia, o que já está em curso e no final terá que haver um perdão da nossa dívida, ou seja uma renegociação com "hair-cut", como digo desde há anos, muito antes do programa de resgate. E se os países do Norte querem manter a Europa unida e a zona euro sem se desmoronar, é bom que pensem desde já, sem adiamentos inúteis, em abrir os cordões à bolsa. A política também tem custos e a paz, que foi o objectivo central da construção europeia não tem preço. Não se pode ter "sol na eira e chuva no nabal". Houve erros e asneiras de parte a parte que, não sendo assumidos já, estão a agravar os problemas de forma irreversível. Teremos líderes à altura? Parece-me que esse é de facto o problema central!