domingo, 18 de agosto de 2013

A MORTE ESPREITA NA ESTRADA

Ontem apanhei um enorme susto. O meu filho tinha partido pela manhã, para o Algarve, com um colega. Sabia que ia pelo IC-1 e que devia passar o Alentejo à tarde. Depois do almoço, vim actualizar as notícias. Em todo o lado se dava conta de um grave acidente que acabara de ocorrer perto de Ourique, entre duas viaturas ligeiras, com 7 mortos, 5 numa e 2 noutra. Fiquei lívido! A tremer, teclei o seu número de telemóvel. E ninguém atendia! Finalmente a voz : "Olá pai. Já chegámos, estamos na praia, em Vilamoura". Uff, que alívio! Mais calmo, fui analisar a notícia. Em 2 dias, 9 mortos naquela zona! A estrada, com bom piso, boa visibilidade, bem sinalizada, com bom tempo, enfim, nada lhe pode ser imputado que possa provocar esta tragédia. Tirando um motivo fortuito, como o rebentamento de um pneu, por exemplo, é claro para toda a gente que conhece aquela estrada e o que por lá se faz, que todas as probabilidades apontam para uma daquelas ultrapassagens assassinas muito comuns em todo o IC-1. Gente que tem pressa de tomar um banho, talvez, que ultrapassa em curvas fechadas, passando traços contínuos, sem se preocupar se vem alguém em sentido contrário ou não. Quem quiser que se afaste para o lado.
    Há muitos anos que digo que um carro é uma arma. E as armas, podem matar. Depende da sua utilização e de quem a manobra. Uma pistola, também pode ser sempre inofensiva, se nunca for disparada. Um destes 2 automóveis, provocou 7 mortos. Mais do que qualquer tiroteio nos últimos anos. Mas se eu der um tiro em alguém e lhe provocar a morte, arrisco uma pesada pena de prisão. Se provocar 3 ou 4 mortes por má condução de um automóvel, sou acusado de homicídio involuntário e apanho uma pena suspensa. Porquê? Apenas pela diferença na premeditação ou não? Lá fora não é assim. As pessoas têm que ter a consciência do que é conduzir uma viatura na estrada. E em países como Portugal, a única forma de o fazer é com mão pesadíssima na lei e na sua posterior aplicação. Se eu passar a 80 Km/h numa zona onde só posso andar a 50 Km/h, cometo uma infracção muito grave. Eventualmente, até num local sem qualquer perigo. Se pisar e ultrapassar um traço contínuo duplo, numa curva fechada, indo para a faixa contrária, cometo a mesma infracção muito grave. Se andar a conduzir com 2 g de alcoolemia no sangue, continua a ser uma infracção muito grave. Tudo igual, portanto! Não há graduação da gravidade e das penas acessórias. Eu nem falo da atribuição das cartas de condução, pois é melhor nem falar. Toda a gente a tem, saiba ou não conduzir, pois uma boa parte das escolas não existem para ensinar a conduzir, servem para "tirar a carta" apenas. E há ainda as da farinha amparo... Mas se quiser tirar uma licença para ter uma pistola, tenho que prestar inúmeras provas e sujeitar-me a testes e nem sempre ela me é atribuída! Porquê? Porque é perigoso tê-la! Porque posso não a utilizar devidamente e assim colocar a vida de outros em risco!
    Sempre defendi que em casos muito graves, como a condução sob o efeito de álcool  em doses que constituam crime, como temos ouvido cada vez com mais frequência, como 2,6 ou 3, por exemplo, ou essas ultrapassagens sobre traço contínuo em locais muito perigosos e que ponham efectivamente em risco a segurança de outros, a lei não devia ter contemplações. Devia implicar a cassação da carta por um longo período, como 5 anos, por exemplo e numa eventual reincidência a cassação definitiva. Nestas coisas, não podemos andar com "paninhos quentes", de multazinhas e eventualmente 6 meses sem a carta. E as pessoas por cá, só obedecem se tiverem medo das consequências, não me venham com teorias e psicologias, porque estou farto de "bullshit", como eu lhes chamo.
    Já há quem não saia de casa depois do pôr do sol em algumas zonas, pelo medo provocado pela  insegurança que reina em muitos locais do país. Em algumas datas, é perigosíssimo andar nas estradas em Portugal, porque há por aí muitos potenciais assassinos à desfilada. Ambas as situações, causadas pela excessiva permissividade e benevolência das leis existentes e na ineficácia da sua aplicação, em boa parte dos casos. Será que aqui se poderá aplicar a máxima de que "cada um tem aquilo que merece?"

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O PIB DO NOSSO CONTENTAMENTO

    Tivemos ontem uma boa notícia na área da economia, uma raridade nos tempos que correm, por isso a relevância ganhou amplitude.

Há dias já, que se preparava o ambiente para a comunicação de que o PIB tinha crescido no 2º trimestre do ano. Havia previsões de 0,3% a 0,6%. Afinal, numa primeira abordagem, o INE apurou que o crescimento foi de 1,1%, um resultado muito bom e surpreendente, sobretudo se considerarmos que o país anda a destruir riqueza desde finais de 2010. Mas este resultado é uma comparação com o trimestre anterior, que tinha sido precisamente o pior desde que começámos a recessão, portanto é preciso cautela na análise, como aliás todos têm demonstrado e pedido. Face ao período homólogo de 2012, por exemplo, a queda foi de 2% ! Não deixa contudo de ser uma boa notícia, pois pode ser o princípio da inversão do sentido. E tão ou mais importante, é que esta subida se deve a um grande incremento das exportações de bens e serviços, pilar fundamental para um crescimento saudável e sustentado de qualquer economia. Recordo que a nossa balança comercial, cronicamente negativa há décadas, já tem saldo positivo, primeiro passo para a sustentabilidade da nossa economia. Foi à custa dum brutal corte nas importações? Sim, também. Mas esse é um princípio básico de qualquer casa bem governada, gastar apenas o que se tem. Desde que não se comprometa a compra de equipamentos necessários e de bens de investimento, a quebra de importações de bens de luxo, por exemplo, é positiva.
    Previ aqui neste blogue, há já quase um ano, números muito negativos para o final deste ano de 2013. Recessão de 3%, taxa de desemprego a chegar aos 20% e o endividamento externo a aproximar-se dos 130% do PIB. Tomara eu estar redondamente enganado! Nunca pertenci ao grupo que gosta do "quanto pior, melhor". Até porque sendo português, o mal do meu país, é o meu mal, seja que governo estiver no poder a cada momento. E uma das posições que sempre detestei nos governos, é a de acharem que tudo o que fazem é bem feito e que os números são sempre positivos, ao contrário de todas as oposições que acha precisamente o contrário. Nenhum é capaz de ser imparcial e de ser sincero e objectivo nas análises.
   Espero que este seja um momento de inversão de ciclo, mas infelizmente não acredito. Tal como não acredito na queda dos números do desemprego e esse é muito mais fácil de manipular. As economias crescem ou não, dependendo do consumo interno, do investimento e das exportações. O consumo interno está parado há anos, por falta de dinheiro e por medo. Medo de perder o emprego, de perder parte da reforma, de perder parte do rendimento, devido ao permanente estado de terror em que o governo mantém boa parte dos portugueses. Investimento não há, porque o Estado não tem dinheiro e as empresas estão quase todas descapitalizadas e as que não estão, esperam para ver. Do exterior também ninguém investe num país na situação em que Portugal se encontra. E as exportações, estão completamente dependentes do andamento das economias dos nossos parceiros da UE, para onde vão a maioria dos nossos produtos. Mas com a continuação dos enormes cortes, agora mais legitimados, segundo o governo, pelo resultado conhecido, a retirar seja 3 seja 4 mil milhões à economia, como pode ela crescer? Compensados pelas exportações? Teriam que crescer exponencialmente, para tapar esta tão grande fatia! Crescerão tanto os nossos vizinhos, nomeadamente a Espanha, que lhes permita comprarem o que produzimos? Duvido muito! Vamos aguardar para ver. As contas, fá-las-emos quando forem conhecidos os números do final do ano. Espero enganar-me nas previsões que fiz, pois seria bom para Portugal e eu, ao contrário dos hipócritas dos governos e das oposições, ponho sempre o meu país em primeiro lugar! Aguardemos, que o povo é sereno...

domingo, 4 de agosto de 2013

FUNDAMENTALISMO ANTI-AUTOCARAVANISTA

   Começo por uma declaração de interesses: sou autocaravanista há poucos anos, depois de décadas de campismo de tenda às costas.
Comprei a autocaravana, paguei todos os impostos devidos (muitos), pago anualmente o IUC, a inspecção obrigatória, o seguro e as portagens quando me sirvo das auto-estradas. Cumpro todas as leis e normas em vigor, a autocaravana é um veículo automóvel homologado e autorizado a circular nas estradas e sujeito ao código da estrada, sem quaisquer restrições especiais. Não entendo portanto, a fobia e o fundamentalismo contido em muitas manifestações verbais ou escritas em redes sociais, ou em artigos publicados. Quando vêm da habitual populaça que nessas redes sociais, no meio da boçalidade, se atira a tudo e a todos, nem vale a pena perder tempo com isso. Mas há outros, que pela escrita se nota que estão num patamar um pouco mais elevado, embora a sanha seja por vezes igual ou maior. E entre nomes mais ou menos simpáticos como, selvagens, bandidos, porcos, usurpadores, chico-espertos, etc, lá vão perorando contra a presença cada vez mais assídua das autocaravanas um pouco por todo o lado. Normalmente o argumento que mais frequentemente se lê ou ouve, é o do despejo de águas sujas em locais indevidos, ou o lixo deixado fora dos contentores, a par com a presença e estacionamento perto de locais aprazíveis, como praias, arribas, lagoas, ou barragens. Há autocaravanistas que prevaricam? Há! Eu próprio já vi alguns a despejar os seus depósitos à beira da estrada, curiosamente vários estrangeiros. Há alguns que deixam o lixo em locais inapropriados? Também há! Mas são só os autocaravanistas? Estes que os desancam nas redes sociais nunca viram garrafas, maços de tabaco, sacos e até fraldas bem recheadas a voar de janelas de automóveis em andamento? Pois eu já! E lixo fora dos contentores? Os automobilistas que piquenicam em qualquer local, trazem tudo para casa, quando não há contentores à vista? Ou até quando os há e bem perto? De quem é então o lixo que vemos espalhado um pouco por todo o lado? Sejamos honestos, sensatos e imparciais: os autocaravanistas são pessoas como as outras e quase todos têm outros automóveis que conduzem como todas as outras pessoas. Há os que cumprem, os que são educados, respeitam as regras e há os que não querem saber de nada, como muitos outros que não têm autocaravana. Eu jamais deixo um papel que seja, fora dos caixotes do lixo e nunca despejaria as minhas águas negras fora do local apropriado. Tal como não o faço nos meus carros nem nunca deixei os meus filhos fazê-lo. Já fiz 500 Km na autocaravana, para despejar as águas, por não haver nada por perto, e bem podia encostar num pinhal e deixá-las ali, sem ninguém ver. Actualmente a maioria dos parques de campismo já têm áreas de serviço e há inúmeras fora dos parques, espalhadas por todo o território. Só quem é javardo por sua natureza é que o faz fora dos locais devidos. Os depósitos de lixo que todos vemos em ribanceiras à beira das estradas portuguesas, com frigoríficos, máquinas de lavar, colchões, foram ali deixados por autocaravanistas?
   As generalizações são sempre perigosas e injustas. Eu vivo em Peniche. Quando regresso a casa vindo do Norte, ou faço um desvio e páro nas termas de S. Pedro do Sul, ou venho pela Beira Baixa e vou ao Pólis de Abrantes e despejo lá, antes de chegar a casa. Curiosamente, Peniche, que é uma terra onde estão permanentemente dezenas de autocaravanas estacionadas, não tem uma área de serviço para lhes dar apoio. E se este facto não desculpa as infracções, pelo menos potencia-as! Há muitas aldeias e pequenas vilas por todo o país que construíram belas áreas de serviço para autocaravanistas, por saberem que este segmento de turismo (sim, porque é disto que se trata) tem um poder de compra acima da média e tentam assim captá-lo para as suas áreas de influência. Os autocaravanistas incomodam e não fazem despesa? É falso! Se não dormem fora das suas unidades, vão muito frequentemente tomar as suas refeições aos restaurantes ou fazer as suas compras aos supermercados e lojas nas localidades onde estacionam.
   Há pessoas que não gostam de autocaravanas? Estão no seu direito! Eu também não gosto de máquinas agrícolas com lama ou bosta de cavalo a saltar dos seus rodados nas estradas por onde ando, e também não gosto de "papa-reformas" a tapar-me o andamento, por exemplo. Vamos proibi-los? Se a lei estiver a ser cumprida, tenho que os aceitar, se não estiver, pois as autoridades que actuem. Tenho lido comentários sobre as agressões ao ambiente, por causa de autocaravanas estacionadas em arribas, ou perto de locais aprazíveis. Entendamo-nos! Há por lá alguma proibição de circulação, ou não? Se há, volto a dizer, a autoridade competente que actue; se não há, as autocaravanas têm tanto direito a circular por ali como os automóveis cujos donos muitas vezes são os mesmos que nessas redes sociais falam contra os outros. Há de tudo, meus caros: há "porcos" ao volante de autocaravanas, tal como os há ao volante de mercedes e BMW.
   Portanto, meus amigos, paremos com as fobias e os fundamentalismos que nunca deram bom resultado e tentemos ser todos mais respeitadores das regras de bom convívio em sociedade, estejamos ao volante de uma autocaravana, de um automóvel, de uma bicicleta, ou simplesmente a pé e a largar o papel do gelado, o pacote das batatas fritas ou a garrafa de água para o chão...