quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA

      Já aqui escrevi sobre a insustentabilidade da nossa dívida pública e de, na minha opinião, ser impossível pagá-la sem que haja um perdão parcial, como aconteceu à Grécia. Estamos todos fartos de ouvir, desde há 2 anos, que não somos a Grécia, que somos muito diferentes, etc, mas o que é certo é que temos percorrido todo o seu calvário apenas com 15 meses de atraso. Os nossos credores sabem que mais tarde ou mais cedo terão que nos fazer o mesmo e por isso querem que paguemos até lá o máximo possível de juros para minimizarem o seu prejuízo. A nossa dívida pública em Setembro passado era de 190 mil milhões de euros. O PIB português de 2011, situou-se nos 171 mil milhões. Como o nosso défice anual anda sempre acima dos 4% e o PIB tem vindo a encolher, é claro que o rácio da dívida vai aumentando de ano para ano. Já aqui previ que no final de 2013 não andará longe dos 130% do PIB, embora as previsões oficiais apontem para 123%...
      Ficámos sem acesso aos mercados, obrigando-nos a recorrer a um resgate financeiro, por não acreditarem na possibilidade de pagarmos o que devemos. E com toda a razão, acrescento eu! Mas porque não o fizeram antes? A UE tem regras, desde Maastricht, uma delas obriga a que a dívida pública dos estados não exceda 60% do seu PIB. Porque não nos "encostaram" nessa altura? Porque continuaram a emprestar-nos dinheiro que estava a infringir regras? Eu sou contra a desculpabilização de quem se endividou, mas esta é a verdade. Quando se aconselham os particulares a não ultrapassar 40% da sua taxa de esforço, é para os proteger a si e às instituições credoras. E os estados? Porque deixaram passar o limite de endividamento para o dobro sem severas sanções?
       Os bancos estão agora a colher o fruto da sua irresponsabilidade e ganância ao emprestarem muitas vezes dinheiro a quem não deviam. E os países? Alguém acredita que nós vamos continuar a conseguir pagar mais de 8 mil milhões por ano em juros com o país em recessão crescente? Gostava que os cérebros brilhantes no governo e nas instâncias europeias me explicassem como! Os portugueses estão fartos da "conversa da treta". Que não queremos renegociar, que isso seria o apocalipse, que nos colaria à Grécia. O que vai acontecer é que vamos destruir toda a economia, o que já está em curso e no final terá que haver um perdão da nossa dívida, ou seja uma renegociação com "hair-cut", como digo desde há anos, muito antes do programa de resgate. E se os países do Norte querem manter a Europa unida e a zona euro sem se desmoronar, é bom que pensem desde já, sem adiamentos inúteis, em abrir os cordões à bolsa. A política também tem custos e a paz, que foi o objectivo central da construção europeia não tem preço. Não se pode ter "sol na eira e chuva no nabal". Houve erros e asneiras de parte a parte que, não sendo assumidos já, estão a agravar os problemas de forma irreversível. Teremos líderes à altura? Parece-me que esse é de facto o problema central!

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