domingo, 16 de dezembro de 2012

PM - DEMAGOGIA E INSENSATEZ

     O primeiro ministro fez hoje afirmações no congresso da JSD que considero absolutamente lamentáveis e indignas de um primeiro ministro de um país europeu, para não dizer mais.
      Convém aqui dizer que me parece haver actualmente uma autêntica cruzada contra os reformados em Portugal. Há dentro e fora do governo quem queira fomentar a hostilidade contra este segmento de população que já deu o seu contributo para que hoje apesar de tudo tenhamos um país e uma sociedade muito mais justa e em melhor situação do que há umas décadas atrás. Afirmou hoje o PM no congresso da JSD, num ambiente em que era preciso argumentos falaciosos para agradar a jovens, que os pensionistas estão a receber mais do que descontaram. Já aqui comentei neste blogue há uns dias atrás, sobre um artigo de Miguel Sousa Tavares, que este discurso está errado. E está errado porque parte do princípio que a reforma dos funcionários públicos é apenas proveniente dos seus descontos, esquecendo que a parte correspondente à entidade patronal (o Estado), nunca foi feita. Portanto se o Estado nunca efectuou a contribuição que lhe pertencia, terá que a fazer agora, não está a fazer nenhum favor a ninguém. E já demonstrei com contas, que os descontos pagam bem a reforma até para além da esperança média de vida. É de fácil acolhimento o discurso de cortar nas reformas de valor elevado. Mas convém não esquecer que, tirando muitos políticos que estão a receber reformas sem terem descontado o suficiente, os outros descontaram elevadas quantias ao longo da sua vida contributiva. São mais elevadas as do sector público? Porque nunca puderam fugir! Quantos no sector privado declararam sempre o ordenado mínimo e sobre ele descontaram, enquanto ganhavam efectivamente muito mais que qualquer funcionário? E por esse motivo têm hoje contas bancárias de dezenas ou mesmo centenas de milhar de euros? O PM não sabe disto? Talvez não, porque a experiência de vida dele é quase nula.
     Numa assembleia de jovens é fácil ser-se aplaudido quando se utilizam argumentos vergonhosos para um PM, como dizer que as reformas são pagas pelos jovens de hoje que talvez não tenham reformas um dia. E os reformados de hoje, não foram eles que pagaram as reformas da geração anterior? Este sistema não funcionou sempre na lógica da solidariedade geracional? Pode ser diferente? E eu pergunto ao PM, que ainda é um jovem: o pai dele, não lhe deu uma vida muito melhor do que a que ele próprio teve na sua juventude? Deveria ter-lhe dado uma refeição por dia e toda a sorte de privações como as que passaram na geração anterior? Pergunto eu ainda: se os meus filhos questionarem politicamente estarem hoje a pagar a minha reforma, poderei eu responder-lhes que na mesma linha de pensamento eu deveria ter questionado gastar o que gastei com a sua educação? Não teria o mesmo direito? Não foi a actual geração de jovens tratada principescamente pelos seus pais como nenhuma outra o foi jamais em Portugal? E se pagarem agora a reforma dos seus pais, como sempre aconteceu aliás, estão a fazer algum favor?
     Acho que se está a ultrapassar todos os limites da decência. Este discurso não é digno de um PM de um país europeu. Provoca clivagens perigosas na sociedade portuguesa, coloca velhos contra novos, privados contra públicos, como se houvesse vários países e não apenas um. Se PPC tem contas privadas a ajustar com o PR e com alguns barões do seu partido, que as resolva em privado, não introduzindo ainda mais factores de instabilidade e de potencial conflito na sociedade portuguesa que já está à beira do limite. Não sei que recalcamentos de juventude terá contra o sector público, mas que toda esta sanha dirigida a empresas e a funcionários públicos e reformados merecia uma análise psicológica profunda, lá isso merecia. E se quer aplicar ao país um programa que é exactamente o oposto daquele que submeteu a sufrágio e para o qual recebeu mandato, que peça a demissão e se recandidate sem máscaras. É mau para o país? Não sei. Já não tenho certezas de nada. A Grécia tem andado de crise em crise política e só tem recebido ajudas e perdões. 

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