domingo, 9 de junho de 2013

O INVESTIMENTO E O CLIMA

Entre os indicadores negativos sobre a economia portuguesa (praticamente todos), ressalta um, pela sua importância e dimensão: o investimento. Uma quebra de 17%, é dramático. E este é um dos maiores responsáveis pela recessão que nos atingiu em força. Não é de estranhar o facto. O Estado não investe um cêntimo, pois cortou em todos os projectos que estavam em execução e/ou planeados, por falta de verbas. Os privados, quer portugueses, quer estrangeiros, não investem pela ausência dos 2 pilares basilares no investimento: o capital e a confiança. As empresas portuguesas estão, na sua grande maioria, descapitalizadas e os poucos empresários que têm dinheiro, preferem tê-lo seguro nos bancos estrangeiros e em offshores. Quem tem por missão fornecer esse capital, a banca, também ela se debate com dificuldades de liquidez e de um acrescido receio de arriscar (vem tarde) o seu capital. Quanto à confiança, quem é que a tem, para investir em Portugal? Um país debaixo de soberania externa, com um rating ao nível do lixo, que não se sabe se a breve prazo terá ou não que sair da zona euro ou até de cair em incumprimento, com leis, quer fiscais quer outras, a mudar de mês a mês, com um governo que de manhã diz uma coisa e à tarde o seu contrário, que mantém um permanente clima de medo e de desconfiança nas pessoas e nas empresas, sim, quem é que investe nesta república? Tendo o resto do mundo à espera de braços abertos?
     Dou apenas 2 pequenos exemplos: o governo, desde que tomou posse, apontou os reformados e os funcionários públicos como alvo para todas as suas diabruras. São cortes de subsídios, taxas, sobretaxas, aumento de impostos, ameaça de despedimentos, de novos cortes e de mais impostos. Estes 2 grupos representam quase metade da população do país e dentro deles está uma boa parte da quase extinta classe média. Pois quem é que, com um clima destes, de ameaça e de medo, vai investir o que quer que seja? Se um funcionário ou reformado estivesse a pensar, por exemplo, comprar um novo automóvel, será que o irá fazer? Ou vai esperar, com receio do futuro? E quanto ao pagamento do subsídio de férias? O TC obrigou o governo a pagá-lo. Pois como represália, este em vez de o pagar em Junho, como seria normal, vai pagá-lo apenas no final do ano, ainda sem se saber bem como nem quando. Não seria inteligente colocar essas centenas de milhões de euros à disposição dos seus donos, já, para esse dinheiro entrar na economia de imediato? Será que, mais uma vez, sou eu que estou com o passo trocado? E quem é o responsável por tudo isto? O mesmo que agora vem jocosamente afirmar que é o clima o responsável pela quebra do investimento... É caso para dizer: "Oh Gaspar, vai ver se chove..."

quinta-feira, 6 de junho de 2013

OS ERROS DO FMI

    O FMI veio hoje a público assumir erros próprios e culpas pela actuação no 1º resgate à Grécia. Dizem em comunicado que houve erros de avaliação, que esta se baseou em informações incorrectas por parte de Bruxelas e que deveria ter havido primeiro uma reestruturação da dívida e só depois o resgate. Ou seja, que a dívida era insustentável e que continuaria a ser com ou sem resgate. O que é curioso é que esta posição contraditória com outras de dentro da mesma organização, já não é nova. Com Portugal, tem-se passado o mesmo. Há comunicados a assumir erros, que o programa de ajustamento foi mal desenhado, que se enganaram no efeito recessivo dos multiplicadores, que a austeridade é demasiado violenta e que tem efeitos perversos sobre a economia, etc, mas depois quando vêm os técnicos da troika às avaliações, agem em sentido contrário ao teor desses comunicados, exigindo mais austeridade e mais cortes. Quem manda afinal no FMI? Há apenas uma estratégia? Ou não há nenhuma? Há só uma pessoa a mandar? Ou mais do que uma? E quem assume a responsabilidade pelos efeitos desses erros? Há pessoas (muitas) a sofrer terríveis consequências devido às medidas que nos obrigaram a tomar! Faz-se um comunicado inconsequente e fica tudo na mesma? E não é essa uma incumbência natural do governo de um país que se sente seriamente prejudicado por tais medidas erradas, o exigir consequências práticas dessa assumpção de culpas? Os governos têm como primeira missão defender os interesses do país, acima de quaisquer outros. Não o fazendo podendo fazê-lo, é uma falha gravíssima, que deve ser questionada por quem tem a obrigação constitucional de o fazer, ou seja, o presidente da república. Estará Gaspar a pensar confrontar os seus amigos e mentores, quando daqui a pouco tempo nos vierem fustigar na 8ª avaliação? Ou tem apenas para lhes mostrar o habitual sorriso melífluo e as vénias de vassalagem?