quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

ELEIÇÕES ITALIANAS

   As eleições italianas, constituiram mais um capítulo no descrédito generalizado em que caíram as democracias, um pouco por todo o mundo. Em face dos maus políticos, da corrupção que grassa por todo o lado, da mentira, da falta de carácter e de princípios de quase todos os governantes, aliados à grave crise financeira e económica que atinge todo o mundo desenvolvido, as populações começam a inquietar-se e a utilizar todas as formas de protesto para mostrar o seu desagrado e irritação. Uma delas, tem sido votar em candidatos anti-sistema, quando eles existem. Assim, há pouco tempo um palhaço foi o deputado mais votado para o parlamento no Brasil, e agora, também um comediante, de nome Grillo, à frente de um movimento que concorreu às eleições em Itália, conquistou 25% dos votos válidos, ficando em 3º lugar, à frente do ex primeiro ministro Monti. Apesar de na Itália se passarem coisas estranhas, como a eleição não há muitos anos de uma actriz porno (Cicciolina) para a câmara de deputados, estes resultados dão que pensar. Para já, tornam o país ingovernável e, nesta altura de enorme sensibilidade, isso afecta toda a Europa, começando pelos países mais débeis, como é costume. Mas é mais um sério aviso à rápida erosão e desgaste em que está a cair o regime democrático como o conhecemos e à consequente abertura de portas que se julgavam definitivamente fechadas há muito.  Vejo toda a gente a assobiar para o lado, como se nada se passasse. Até ser demasiado tarde...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A ESTA EUROPA DIGO: NÃO, OBRIGADO!




www.publico.pt
Os juros dos títulos de dívida dos países periféricos da Zona Euro deram um lucro de 1100 milhões de euros ao Banco Central Europeu, de acordo com os dados do banco. Este lucro parte de uma carteira de 208 mil milhões de euros em dívida portuguesa, 

    Notícia de hoje. Este lucro do BCE, vai agora ser repartido pelos bancos centrais de cada país, proporcionalmente ao capital que cada um representa, tendo a Alemanha a parte de leão, como é de calcular. É assim que funciona a Europa da solidariedade hoje em dia. Mais de 500 milhões são à conta da Grécia. Um país mergulhado  numa recessão sem retorno, num desemprego que se aproxima dos 30%, com a rede social desfeita e uma sociedade em ruptura e desagregação. Portugal segue-lhe os passos a curta distância. Miséria, fome, gente a deambular pelas cidades de olhar vazio, sem esperança, sem trabalho, sem apoios de qualquer espécie. Hospitais sem materiais de primeira necessidade nem medicamentos para combater as doenças mais mortíferas e com terapêuticas mais onerosas. Não, não estamos a falar de qualquer país da América Central ou da África. São países europeus, da zona euro! Países que cometeram excessos sim, que se deslumbraram com o dinheiro e o crédito fáceis, mas que também se limitaram a cumprir directrizes emanadas pelos doutos comissários europeus, responsáveis pela política económica e monetária, apavorados pelos acontecimentos na América em 2008. E que agora estão a ser massacrados pelos países mais fortes que, para manterem os seus eleitorados satisfeitos, submetem os países do sul ao aperto de um torniquete de austeridade, saque por cobrança de juros agiotas e humilhação.

      Não era por certo esta Europa que Jean Monnet e Robert Schuman sonharam. A Europa que através da solidariedade e do caminho rumo ao federalismo, afastasse o fantasma da guerra para sempre. Não era a pensar neste desfecho que em 1950 dizia:" A Europa não se fará de uma só vez nem de acordo com um plano único. Far-se-à através de realizações concretas que criarão antes de mais uma solidariedade de facto".

      Estas notícias também saem nos telejornais alemães, holandeses ou finlandeses. Que também devem ir para o ar à hora de jantar. O que pensarão os cidadãos desses países, refastelados nas suas mesas bem abastecidas, quando vêem as reportagens em Atenas, com agricultores a distribuir gratuitamente laranjas e batatas a milhares de mãos que se estendem desesperadas, à frente de rostos famintos? Os rostos dos que são extorquidos para que o BCE lucre 1100 milhões para distribuir pelos países do norte? E os últimos estadistas ainda vivos, Jacques Delors e Helmut Kohl, o que pensarão?

     A esta Europa eu digo: Não, obrigado!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PROVAR DO PRÓPRIO VENENO.

     O governo tem-nos habituado a uma táctica que, não sendo nova, não era utilizada com tanta insistência há muito tempo. Trata-se de, em relação ao anúncio de medidas impopulares e quantificáveis, atirar com um número assustador para o ar, para as pessoas ficarem apavoradas e irem digerindo e encaixando o golpe, para depois daí a uns dias (por vezes algumas horas depois), aparecer alguém a amenizar o panorama, dizendo que afinal não será preciso ir tão longe e as vítimas respiram de alívio, por afinal não ser assim tão mau. Foi o que se passou com a TSU, ou com a sobretaxa de IRS, que seria de 4% e acabou por ficar em 3,5%. Mas temos vários outros exemplos. Se Gaspar acha que são precisos 3000 milhões, anuncia 4000 milhões de cortes, para depois, com algumas pseudo-negociações, ficar nos pretendidos 3000 milhões...

       Pois desta vez, o primeiro ministro provou do seu próprio veneno. No Conselho Europeu que decorreu em Bruxelas no passado dia 8 e em que se discutia o orçamento da União Europeia para os próximos 7 anos, com a ameaça a pairar no ar de cortes de 20% em relação ao período anterior, os cortes para a coesão e a PAC acabaram por ficar em 13%, na média dos 27 estados. No entanto, para Portugal o corte situou-se nos 9,7%. Para PPC, como a ameaça inicial era de 20%,  9,7% acabou por ser bom! Alguém deve ter ficado com um sorriso irónico nos lábios, em Bruxelas, ouvindo o tom benevolente e resignado com que aceitámos o inevitável. É que vão longe os tempos de abastança europeia em que se distribuíam milhões pelos países da coesão, como quem distribui rebuçados num jardim de infância e em que Portugal tinha amigos bem colocados e que eram estadistas de peso, como Jacques Delors e Helmut Kohl. Agora acabaram os milhões e os estadistas foram substituídos por pigmeus da política. O único que nos restava, acabou de se despedir: Jean Claude Juncker. Com um holandês no seu lugar, é mais um falcão de olhos cravados nos nossos orçamentos e derrapagens de défices. Aguardemos os próximos capítulos...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O DESEMPREGO JOVEM

    De regresso, com mais tempo para o habitual comentário verrinoso...

     Ouvi e vi hoje uma reportagem feita na Croácia, sobre o desemprego jovem. Se não fosse a língua denotando as origens geográficas, as perguntas, as respostas, os desabafos, as críticas, as esperanças e desilusões podiam ter sido captadas em qualquer parte do mundo actual. Costumamos dizer que "com o mal dos outros podemos nós bem". Mas este é um problema que aflige quase todo o mundo desenvolvido, actualmente. Já ouvíamos frequentemente falar dele como um fenómeno endémico, em África e no mundo árabe, por exemplo. Mas aí, os jovens representam em alguns casos, mais de 50% da população e as débeis economias não criam nem de perto nem de longe, emprego para toda essa juventude, o que tem provocado convulsões sociais graves, que estiveram na origem da chamada "Primavera Árabe", como se sabe. Mas este problema tem vindo a agravar-se no mundo desenvolvido, onde, paradoxalmente, as taxas de natalidade têm vindo a baixar, fazendo supor que havendo menos jovens, seria mais fácil a sua integração no mercado de trabalho. A culminar, deu-se a crise financeira de 2008, na qual estamos ainda mergulhados, que destruiu economias, milhões de empregos e cujo fim não se vislumbra. Vamos a Espanha, Itália, Grécia, Irlanda, França, Bélgica, todos os países de leste, repúblicas bálticas e o discurso dos jovens é igual em todo o lado: " no nosso país não há emprego e os patrões exploram-nos, oferecendo-nos ordenados de miséria e péssimas condições de trabalho, por isso a solução é emigrar"... De repente todos pensam emigrar. Mas emigrar para onde? Milhões de jovens, a maioria com grandes currículos académicos nos quais os seus países investiram rios de dinheiro, todos sem futuro, com o olhar vago, sem esperança. A Alemanha, a Suiça e a Noruega acolhem esta gente toda? É claro que não! Aliás, já estão a fechar as portas. Isto faz-me lembrar o mercantilismo na Europa dos séc. XVII e XVIII; de repente todos descobriram que a riqueza se conseguia vendendo produtos aos outros, e através de barreiras alfandegárias, dificultando a entrada dos produtos alheios. Ora é claro que assim, ninguém vendia nada a ninguém... O que é que a humanidade andou a fazer, oferecendo cursos e excelente formação a todos estes jovens para agora não saber o que fazer deles? Basta ver o triste espectáculo das cimeiras e reuniões, em que dirigentes políticos entram e saem, sempre sorridentes, com palavreado de circunstância, mas um enorme vazio de ideias e de soluções. Os diagnósticos estão todos feitos, esses também eu sei fazer. E soluções? Onde estão os estadistas, com rasgo, com capacidade de visão e decisão? Quando é que desaparecem os pigmeus que povoam todos os lugares de decisão na Europa? Antes que a tampa salte com consequências imprevisíveis...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A LIÇÃO DE CABO VERDE

    O presidente da república de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, deu instruções ao "staff" e à equipa de futebol do seu país, que participou na semana passada no CAN, para que as entrevistas e todas as comunicações oficiais fossem feitas em português. Que grande bofetada com luva branca, que Cabo Verde nos deu! A nós, portugueses, que adoramos trocar a nossa língua por outra qualquer logo que nos surge o ensejo. Especialmente no mundo do futebol, em que jogadores ou treinadores logo que chegam lá fora, antes de mostrarem o que valem com os pés, tratam de exibir os dotes linguísticos, muitas vezes com resultados desastrosos... E os nossos políticos ou outros portugueses titulares de altos cargos internacionais? Que raramente comunicam em português? Têm vergonha da língua portuguesa?
      Que tristeza, que humilhação, ver tantas vezes os nossos representantes lá fora, mas também cá dentro, mostrarem uma subserviência e um provincianismo ridículo perante tudo o que é estrangeiro. E é preciso que, tal como está a acontecer com a rocambolesca e humilhante história do acordo ortográfico, sejam os países africanos de língua oficial portuguesa a dar o exemplo, a fazer o trabalho e a tomar as atitudes que, para desgraça colectiva nossa, os portugueses não têm a coragem e a dignidade de dar corpo. Só se ouve falar de crise económica, como se essa não fosse a consequência das outras crises que nos estão a afundar como povo e como nação independente com 900 anos de história carregada de feitos impensáveis para nações com a dimensão da nossa.

       Coloquei um "post" neste blogue no dia 10/12/2011, precisamente sobre este tema. Infelizmente, está cada vez mais actualizado...