domingo, 4 de novembro de 2012

AS VERDADES DE MANUELA

    Manuela Ferreira Leite afirmou ontem em Coimbra, entre outras coisas, que "só existem democracias sólidas assentes numa classe média forte". Disse também que "os que têm poucos rendimentos não pagam impostos e os que têm altos rendimentos pagam, mas infelizmente são poucos".

     São verdades que certamente poucos contestarão, a segunda das quais é apenas uma constatação que eu corrigiria em dois pontos: não são só os que têm poucos rendimentos que não pagam impostos, são os que declaram poucos rendimentos, o que não é a mesma coisa. E os que têm altos rendimentos, não são assim tão poucos; são poucos é os que pagam impostos, por porem os seus altos rendimentos ao fresco ou em nome de SGPS e em offshores. Ora tirando uns e outros, ficam os do meio, a que eu chamo, os do costume! E é sobre estes que cai todo o peso da canga! E são estes que são chamados de classe média, por terem (ainda) um emprego ou já terem tido um, enquanto novos. Por não poderem fugir ao fisco. Também por isso cognominados de "tansos fiscais".

    É pena que os políticos em geral tenham razão apenas quando estão na oposição. E expurgando das afirmações de MFL a conhecida paixão que tem por Passos Coelho e o sarcasmo que delas rescende, fica a verdade insofismável. Não há nenhuma economia de mercado que seja viável e que sobreviva sem uma classe média forte e numerosa. A excepção a esta regra são os países párias e os estados falhados, quase todos em África e na Ásia. Até a China que tem um regime político não democrático tem, de facto, uma economia que se pode considerar de mercado, com uma classe média em ascensão. Em Portugal está-se a fazer o contrário: a esmagar com impostos asfixiantes e com o consequente disparar do desemprego, a faixa da população que sustenta o país. E quando não houver classe média, quem paga? Talvez não cheguemos aí. Daqui a 6 meses, quando for conhecida a execução orçamental do 1º trimestre de 2013 e o governo vier anunciar novo pacote fiscal e de cortes, para tapar o buraco sem fundo agravado por este orçamento que todos sabem ser inexequível, explodirá a agitação social que será imparável sem alterações políticas de fundo. Não me atrevo a prever mais que isto. A não ser que, haja o que houver, a conta está por pagar e serão sempre os do meio a fazê-lo. É dos poucos exemplos em que parece que não é no meio que está a virtude...

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