Habitualmente revejo-me na maioria dos comentários e do conteúdo dos artigos de Miguel Sousa Tavares (MST). Quer no telejornal da SIC às segundas feiras, quer na página que assina semanalmente no Expresso. No passado dia 10, porém, referiu no jornal a questão das reformas de modo que considero desadequado e até, surpreendentemente, descuidado. Diz ele que foi abordado por uma senhora, que protestava por lhe terem baixado o valor da reforma. Entre argumentos e contra argumentos, as contas de MST, são as seguintes: a senhora descontou 10% do ordenado durante 40 anos. Este desconto serviria para pagar despesas com saúde e o resto se sobrasse então seria para a reforma. E sendo assim, esse dinheiro só chegaria para 4 anos de reforma e estando ela já reformada há 14, há 10 que estava a consumir dinheiro do Estado...
Ora parece-me claro que há por aqui várias incorrecções e até alguma demagogia. Primeiro, o desconto é de 11% por parte do trabalhador mas a entidade patronal desconta também 23,75%, o que dá em conjunto 34,75%. Em segundo lugar, o desconto de 11% não é o único que fazemos, como se sabe. Então e o IRS serve para quê? Não é para recebermos os serviços que o Estado nos presta quando precisamos, nomeadamente cuidados de saúde?
Vamos fazer umas contas rapidamente. Imaginemos um trabalhador da classe média, por conta de um patrão e que não pode fugir aos impostos, que ganhe 1000 euros por mês. Ele e o patrão juntos, descontam 347,50 por mês para segurança social. Por ano dá 4170. Se se mantivessem os descontos e não houvesse variação do salário, ao fim de 40 anos tínhamos 166.800 euros, sem subsídios. Se lhe for atribuída uma aposentação com 80% do valor que recebia no activo, ficaria a receber 800 euros. Então, os 166.800 dariam para lhe pagar a reforma durante 17 anos. Como a esperança média de vida em Portugal anda pelos 79 anos e a idade de reforma está nos 65 anos, até ficamos com uma folga! O dinheirinho acumulado afinal chegava para lhe pagar a reforma até aos 82 anos! É claro que estas contas estão simplificadas, mas as de MST não estão correctas. A segurança social paga baixas médicas, e várias outras prestações sociais ao longo da nossa vida. Mas os que pagam IRS, descontam bem para isso! Já escrevi neste blogue que a situação a que chegámos é por os governos andarem a tirar dinheiro da segurança social que proveio de descontos do regime contributivo para pagar subsídios a quem nunca descontou nada. RSI, complemento solidário de idosos e pensões de domésticas, pescadores, agricultores e... políticos! Esse dinheiro devia vir do orçamento geral do Estado. E na CGA, a diferença é que o Estado, na sua qualidade de patrão nunca descontou os 23,75% que obriga os outros patrões a descontar. Ora faça lá MST as continhas aos 11% e aos 23,75% que o Estado devia lá depositar e veja se um reformado aos 65 anos com 40 anos de desconto, pagou ou não o suficiente para depois receber a sua reforma. Se o Estado não sabe gerir fundos, que reparta a tarefa com outros. E que não roube o que outros criaram, para solucionar problemas seus de tesouraria, adquirindo responsabilidades futuras que depois não cumpre, como qualquer vulgar vigarista. Estou a referir-me aos fundos de pensões dos CTT, PT e CGD, que estavam provisionados pelos descontos dos seus trabalhadores para lhes pagar 14 prestações anuais, foram nacionalizados com a cláusula contratual expressa de respeitar esses compromissos, que agora são simplesmente ignorados, sofrendo cortes mensais e duas prestações anuais. O que diria a isto MST?
A resposta é simples:
ResponderEliminarQual dos MST fez assim as contas?
MST on the rocks, ou o MST pure malt?