quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PAIRAM NUVENS SOBRE A CGD

     Nunca fiz publicamente qualquer comentário escrito sobre a CGD, por motivos óbvios. Mas pressentindo o que se está a preparar em relação à casa a quem dei o melhor de mim durante 29 anos, não posso deixar de desabafar, deixando aqui os meus receios e a minha apreensão.
 
A Caixa não é uma empresa qualquer. Como também não é apenas mais um banco a operar no mercado. É o maior de todos e tem como único accionista o Estado português e estes 2 aspectos fazem toda a diferença. A Caixa foi sempre o "braço armado" da política financeira do Estado, papel que a sua dimensão sempre lhe permitiu cumprir cabalmente. E enquanto não se viu envolvida em jogos políticos e de poder, cumpriu sempre as suas principais missões, que considero serem as de captar a pequena poupança das famílias, financiar as empresas, especialmente as PME'S e os bons projectos empresariais, servir como regulador do mercado, actuando por exemplo sobre as taxas de juro, comissões praticadas e no crédito concedido. Nenhum outro banco em Portugal pode assumir este papel. Para não falar já no protagonismo que teve no salvamento de várias grandes empresas, incluindo outros bancos e seguradoras, que de outro modo ou teriam encerrado ou estariam agora nas mãos de grupos estrangeiros. Ah, e já agora pelos muitos milhares de milhões que ao longo dos anos tem rendido ao Estado, em dividendos!

      Pelo que acabo de escrever, sempre achei que a Caixa não devia competir de igual para igual com a restante banca comercial. Pelo papel único que tem e que não assumindo essa diferença na sua estratégia comercial e prática negocial diária, mais tarde ou mais cedo havia de aparecer alguém a dizer que o Estado não deve nem precisa ter um banco que é igual aos outros e que portanto deve ser privatizado. E aí está! Por ideologia e pela premente necessidade de fazer dinheiro com tudo o que se possa lançar mão, está-se a abrir caminho para a venda da Caixa a privados. Que face à penúria nacional e ao momento que atravessamos será necessariamente feita a favor de estrangeiros e por um montante muito abaixo do real valor quer patrimonial quer simbólico e identitário para o povo português. A ideia de se criar um novo banco de fomento é o primeiro passo. Depois deste nascer aparecerá alguém a dizer que o Estado não precisa de 2 bancos e que a Caixa deve ser privatizada. A estratégia parece-me clara. Se a ideia para o novo banco é financiar as empresas, porque não fazê-lo através da Caixa? Não foi sempre assim? Aliás, a Caixa teve ao longo da sua história recente, diversas parcerias com o KFW, banco alemão que agora se apresta a apadrinhar o nascimento do novo banco...

      Este é um dos valores nacionais por que vale a pena lutar. Volto a afirmar: a Caixa não é uma empresa qualquer. Mais que um banco é um símbolo nacional, é a marca portuguesa com maior valor e em que os portugueses mais confiam. E que não hajam dúvidas de que se for parar a mãos privadas, será a galinha dos ovos de ouro que deixará de estar na posse do Estado. A breve prazo serão encerradas dezenas de agências, especialmente no interior e serão despedidos centenas de trabalhadores. E será como alguém que se desfaz de uma jóia de família para equilibrar as contas. Fica sem a jóia e as contas ficam iguais...

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