quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A TENAZ DE GASPAR

   Ainda dolorido da bofetada fiscal que Vitor Gaspar ontem anunciou aos portugueses que pagam impostos (sim, que isto de dizer que os sacrifícios são para todos é uma grande falácia), vou tentar dizer o que penso sobre o assunto.

    Quando perco a confiança em alguém, é para sempre. No caso deste governo, detecto alguma perversidade, espírito de vingança e mesmo algum maquiavelismo nas medidas que têm vindo a ser anunciadas. O aumento da TSU, era uma resposta imbuída de algum rancor, ao chumbo do tribunal constitucional ao corte dos subsídios apenas a uma parte da população. Mas eu já não sei se essa proposta não foi lançada propositadamente de forma tão estúpida e violenta que tivesse que ser rejeitada para depois aparecer então o verdadeiro massacre já preparado antecipadamente, como alternativa. Todavia o que foi anunciado foi apenas a generalidade, para nos irmos habituando à ideia. Os novos escalões, como irão ser distribuídos, quais os valores de entrada? Que taxas caberão a cada um? O que me parece é que o grande objectivo é puxar uma boa parte dos actuais contribuintes dos escalões 6 e 7 para o último e aplicar-lhes a taxa marginal de 54,5%! Isto é de uma violência inaudita! Andar a trabalhar para entregar ao Estado quase 3/4 da remuneração em impostos directos? Juntando-lhe o que se paga em IVA, ISP, IMI, IUC e outros andará sempre acima dos 80%. Isto não é pagar impostos, é ser saqueado pelo Estado. E como ninguém gosta de ser roubado, a consequência lógica será a fuga maciça de quadros de empresas, investigadores, enfim, todos os mais competentes e dotados que tenham a possibilidade de sair daqui. Quem é que investe num país cujo Estado está de goelas abertas à espera de alguma vítima a quem espoliar? E o IMI? Que perdeu também a cláusula de salvaguarda deixando em aberto o mais que certo aumento de 200 ou 300 euros para 1500, 2000, 3000 euros? Antevejo que dentro de 2 anos os bancos e as finanças serão as imobiliárias mais bem apetrechadas do mercado...

     Nós sabemos que há uma dívida para pagar. Até sabemos também que serão os mesmos de sempre a fazê-lo, ou seja os trabalhadores por conta de outrém que recebem mais de 700 euros e as PME'S. Mas desta forma nunca a conseguiremos pagar. E se o banco onde devemos o empréstimo da casa, de repente viesse pedir-nos para o liquidar em 5 anos? Deixávamos de pagar e entregávamos a casa! Não há hipótese de chegarmos a bom porto. O ser bom aluno já não chega. O país está a ser destruído, a economia a ser arrasada e depois disso acontecer vamos ser obrigados a reestruturar a dívida, sem já termos os meios para a pagar, porque não teremos economia.

    A situação de Portugal é gravíssima. Talvez a mais grave desde 1891. E é nestas situações que o presidente da república tem que mostrar para que serve. A estabilidade governativa já não vai resolver o problema. Vêm aí convulsões sociais como as da Grécia, a coesão social está em ruptura. O mesmo se irá passar em Espanha. Os países do sul e a Irlanda têm que se juntar e fazer valer a realidade a quem dirige a Europa. Eu afirmei isto há 2 anos num artigo que coloquei no meu "post" anterior. E têm que esticar a corda até ao limite. Renegociar a dívida. Se não for aceite, deixamos de pagar. Perdemos 50% do nível de vida? E entregando 70% do que ganhamos em impostos ao Estado para pagar a dívida? Qual é que é melhor? E podem ter a certeza que se houver uma posição comum de 5 países, os credores cedem. Assim é que não dá. Anotem isto: No final do próximo ano estaremos com uma taxa de desemprego de 20%. E a dívida pública em 130% do PIB. E com o mesmo nível de vida da década de 50...

Sem comentários:

Enviar um comentário