terça-feira, 9 de outubro de 2012

A BANCA E OS CONTRIBUINTES

    Foi aprovada na AR nova legislação no âmbito do crédito à habitação, tendo em vista sobretudo proteger as famílias mais endividadas, ou já em insolvência. Os partidos mais à esquerda, queriam ir mais além, com uma série de medidas onde apenas faltava que fosse o Estado a pagar as dívidas aos particulares declarados insolventes. À direita, defendia-se um conjunto de alterações que na prática a banca já há muito vem fazendo, como renegociação em termos de prazos, períodos de carência, diferimentos, proibições de aumento de spreads, etc. Ficou-se um pouco pelo meio, onde sobressai a possibilidade de entregar o imóvel hipotecado na figura da dação em pagamento, em alguns casos, não em todos, como queriam alguns partidos.

   Há alguma animosidade contra a banca em geral, de há uns anos para cá, com alguma razão, já que uma boa parte dos problemas financeiros que o mundo desenvolvido atravessa devem-se à irresponsabilidade e ganância do sector financeiro, com a banca à cabeça, deixada à solta por uma desregulação ditada pelos modelos neo e ultra-liberais que nos têm regido desde Thatcher e Reagan. Mas o que as pessoas devem pensar é que normalmente quem paga os erros e os prejuízos da banca não são os seus accionistas, são os contribuintes. Infelizmente exemplos não faltam! E no contexto que estamos a atravessar, com a banca em situação difícil, a acumular prejuízos devidos ao registo de imparidades por investimentos desastrosos das suas equipas de gestão pagas principescamente, pela desvalorização das carteiras de títulos detidas e pelo aumento abrupto do incumprimento de operações de crédito, abrir as portas à entrega das casas como pagamento integral dos créditos à habitação, é mais um passo no sentido de complicar ainda mais a situação dos balanços dos bancos, obrigando em pouco tempo a novos aumentos de capital que os accionistas não poderão cobrir. A juntar a isto, o novo corte no rendimento das famílias em 2013 e a "bomba" que aí vem com o nome de IMI, se for retirada a cláusula de salvaguarda já para 2013, prevejo que, como já disse, dentro de 2 anos, a banca tenha stocks de casas em número superior à Remax e Era juntas, sem saber o que lhes fazer. Vai ter que emagrecer estruturas, com fecho de agências e despedimentos e provavelmente fusões entre bancos. E quando for preciso mais capital e os accionistas assobiarem para o lado, entrará o Estado, ou seja, os contribuintes que pagam os seus empréstimos e os seus impostos a tempo e a horas... O filme já visto e revisto desde sempre!

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