quarta-feira, 15 de agosto de 2012

OPORTUNISMO EMPRESARIAL PORTUGUÊS

   Num curto espaço de tempo, fomos confrontados com a notícia do fim de 3 grandes investimentos projectados para o nosso país. Ou melhor, em dois deles, porque o outro nem passou de vaga promessa. E como estamos necessitados de investimento! E um para cada sector da economia: a reactivação das minas de ferro de Torre de Moncorvo, umas fábricas de painéis solares e seus componentes em Abrantes e um grande empreendimento turístico nas margens do Alqueva. Sempre fui muito céptico quando se fala de grandes investimentos. Talvez a aplicação prática da máxima "quando a esmola é muita o pobre desconfia". Ou talvez ainda a descrença na classe empresarial portuguesa que me levou sempre a dizer que em Portugal há muito mais oportunistas que empresários. Empresários a sério, que arrisquem o que é seu e não estejam à espera que seja o Estado ou a banca a levar-lhes o futuro numa bandeja. Se correr bem, enche-se a conta bancária, se correr mal, o Estado ou a banca que recolham o prejuízo. No caso das minas, razão tinha o presidente da autarquia de Moncorvo quando, prudentemente, dizia ser melhor esperar e não embandeirar em arco. Em relação à fábrica de painéis solares, o seu promotor diz que tudo será construído, com ajudas ou sem elas e estará a funcionar dentro de um ano. Esperemos que sim; Portugal bem precisa! No Alqueva, José Roquete queixa-se da Caixa, porque lhe exigiu mais garantias do que ele queria dar. Ele é que é o empresário, mas o risco era para o banco. Amanhã, o megalómano projecto ia pelas águas abaixo, tal como foi o de Carlos Melancia às portas de Marvão e lá ficava a Caixa com mais uns resorts semi acabados, umas marinas a apodrecer e os contribuintes a pagar. Estes são infelizmente os empresários que conhecemos. Ou os outros, os que enriquecem fulgurantemente, a comprar posições em empresas cotadas, com empréstimos concedidos por amigos bem colocados nos bancos; ou ainda aquela amostra de empresários, que pede (pedia...) 100 mil euros ao banco para iniciar uma actividade, compra um mercedes e um sistema informático e passados seis meses encerra a "empresa" e desaparece. Já para não falar nos puros vigaristas, que também estão bem representados. É claro que há umas excepções, que até são responsáveis pelo único indicador positivo na nossa economia: as exportações. Veremos se conseguem que o seu exemplo frutifique e se altere definitivamente o paradigma do "oportunismo empresarial" português.

1 comentário:

  1. Eu (tal como tu) ainda sou do tempo em que nos impunham como objectivo primeiro vender o SOL a empresários, preferencialmente aos "responsáveis, sérios e cumpridores..."
    Depois veio a banca dos Bês + letra - letra, e os ratings cozinhados dos grupos das cores e petiscos às 4ªs (5ªs ou 6ªs)feiras passaram a ser a única condição preferencial de crédito.
    E hoje, para ter a atenção de um qualquer Banco ou Caixa é tão difícil que me faz lembrar as histórias da guerra mundial contadas pela minha avó: só com senha de racionamento!

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