segunda-feira, 18 de junho de 2012

DIALÉCTICA DA MORTE

    Dia triste, hoje. Pela manhã uma mensagem no telemóvel: "Faleceu o filho da colega F... O funeral é logo à tarde". Fiz rapidamente contas. Ela é da minha idade, portanto o filho deve andar pelos 20 anos. Nesta idade, como morrem os jovens? Pensei imediatamente num acidente ou em cancro. Soube depois que foi provocada pela rotura de um aneurisma. Mas pensei sobretudo na dor daquela mãe. Nós associamos sempre a morte à idade avançada, por uma questão de naturalidade. Tudo o que foge desse padrão ganha foros de anormalidade. E enquanto jovens, atribuímos à vida um carácter de perenidade que, quase sempre, apenas depois de um forte susto adquire o seu verdadeiro estatuto de transitoriedade.
     Que dizer a uma mãe que perde um filho jovem? Que palavras utilizar? Por vezes os melhores aliados são apenas o silêncio e um olhar cúmplice. Olhar que neste caso contém uma mensagem de gratidão pelo pequeno talismã colocado na minha mão há um ano na véspera de ser operado a um cancro e que me acompanhou nesse transe difícil. Afinal, a vida só tem sentido com estes pequenos gestos carregados de simbolismo e de fraternidade. Tudo o resto, é a espuma da inutilidade e banalidade com que enchemos o nosso quotidiano.

3 comentários:

  1. Não tenho filhos...nem imagino o terrivel que seja essa perda...
    Efetivamente nãoo há palavras que confortem tal DOR, mas um abraço forte ou até mesmo esse olhar basta.

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  2. Concordo consigo. Tudo o que se possa dizer soará sempre a inútil. Melhor mesmo esse abraço solidário.

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    1. Obrigada João Pinto, não há palavras...
      Dizes que eu publico mensagens lindas e profundas. Como calculas nunca nenhuma delas tocou tanto o meu coração como esta.
      Obrigada por tudo, pelo teu apoio e essencialmente pelo teu abraço.

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