sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O REGRESSO AOS MERCADOS

     Portugal regressou ontem aos mercados. Foi a notícia do dia e não se tem falado de outra coisa. De facto, temos ouvido desde há imenso tempo que o regresso se daria em Setembro deste ano e este objectivo tem sido apontado como razão para quase todos os sacrifícios a que boa parte da população tem sido sujeita. Esta antecipação acaba por constituir um teste à receptividade dos mercados à dívida pública portuguesa e sob esse aspecto, correu bem. A procura excedeu a oferta em 4 vezes, o que levou o IGCP a aumentar em 500 milhões o montante inicial. No entanto, tratou-se de uma emissão "protegida", ou seja, havia uma tomada firme por parte de um conjunto de instituições bancárias, para o caso de a procura ou as taxas não se revelarem suficientes ou atractivas. Mas houve procura e as taxas ficaram ligeiramente abaixo dos 5%. É um bom sinal? É, sem dúvida. Deveremos por isso ficar contentes? Sim! É o nosso país, somos nós que estamos em causa. Não faço parte do grupo que considera que "quanto pior, melhor". Quando as coisas correm bem, é preciso reconhecê-lo e concordar que o que é bom para o país é bom para nós. Independentemente de quem está no momento a governar. Mas isto é apenas um sinal, e muito ténue. Portugal tem um enorme volume de dívida para refinanciar nos próximos tempos e se não houver procura suficiente, ou o "chapéu" do BCE para nos proteger, isso significará um novo pacote financeiro da troika, embrulhado com a respectiva austeridade. Esperemos ansiosamente que não! Mas vejamos a que taxas nos estamos a financiar. Esta tranche de ontem foi colocada a 4,9%! Como é que um país cuja economia está em recessão e cujas previsões de crescimento a médio prazo nunca ultrapassam os 2%, pode alguma vez pagar o que deve, a estas taxas?  Seria o mesmo que um banco pedir dinheiro lá fora a 4% e depois ir emprestá-lo aos seus clientes a 2%... Era o "milagre" que o BPN fazia há algum tempo atrás e que nenhuma regulação questionou...

        Isto leva-me a reforçar o que tenho afirmado sempre: Portugal não conseguirá pagar a sua dívida sem uma reestruturação com um perdão parcial. É uma questão de tempo. O rácio da dívida em relação ao PIB vai aumentar cada vez mais até se tornar insustentável. Aliás, já o é. A economia não consegue nem conseguirá crescer porque trabalhamos e criamos riqueza só para pagar juros. Portanto, o regresso aos mercados é bom, no que isso significa de esperança de libertação das garras da troika. Mas não nos devemos esquecer que ir aos mercados significa endividarmo-nos mais, já que o fazemos para pagar dívida que atinge a maturidade acrescida dos tais juros. Ora foi precisamente o endividamento excessivo que nos trouxe até aqui...

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