O FMI, a pedido do governo, entregou um relatório ou estudo, como se preferir chamar-lhe, sobre os cortes de 4 mil milhões de euros que dizem ser necessário fazer nas despesas do Estado, de forma permanente. E, para nosso espanto, os cortes vão incidir onde ninguém estava à espera, é claro! De facto, para se continuar a fazer o ajustamento de forma justa e equitativa ou seja, repartindo os sacrifícios por todos, e à semelhança do que tem sido feito sucessivamente por este governo, a "estalada" é sempre dada aos mesmos. Na sua parte de leão, aos funcionários públicos e aos reformados. Apesar das consequências avassaladoras que, se estas medidas forem levadas à prática, irão cair sobre toda a população. Efectivamente, do que se trata é simplesmente da destruição do sistema de vida que construímos na Europa do pós-guerra e que chegou a Portugal depois de 1974. Se isto for para a frente, será o fim do Serviço Nacional de Saúde, que sempre considerei, a par com a conquista da liberdade, como as duas grandes dádivas do 25 de Abril, mas também da educação universal e gratuita, da defesa e segurança do país, e da protecção social, quer aos idosos, quer a doentes ou a desempregados. Nada do que é público escapará e os chamados "privados", que olham para tudo isto de forma um pouco superficial, como se lhes não dissesse respeito, sofrerão em breve com os efeitos colaterais de tais medidas, se não forem afectados directamente.
Christine Lagarde, ainda há dias dizia que o FMI errou na previsão e avaliação dos efeitos que os programas de austeridade teriam sobre as economias, subestimando os efeitos recessivos e errando no valor dos famosos multiplicadores. O resultado catastrófico está à vista em vários países que estão a experimentar a receita. No entanto, agora é entregue ao governo português um programa demolidor onde a receita sugerida é a mesma mas com uma amplitude bem maior ainda. Estamos todos fartos de ouvir e de saber que esta receita tinha e tem os efeitos que se previam. O governo podia defender-se que estava apenas a aplicar um programa imposto de fora e por quem nos está a financiar. Agora, pediu "ajuda" ao FMI para lhe servir de escudo na aplicação de tais medidas.
Já aqui tenho escrito sobejamente sobre este assunto. Já aqui previ que este ano será de desastre para a economia portuguesa. Se em cima desse desastre forem retirados mais 4 mil milhões à economia a partir de 2014, o comércio que escapar a 2013, será simplesmente varrido, a indústria que produz para o mercado interno, também, arrastando todos os outros sectores, levando o desemprego a entrar em roda livre para números absolutamente impensáveis em Portugal.
Prevejo que se avizinham tempos muito conturbados no nosso país. Há muito tempo que digo que Abril próximo será um mês de clarificação. Quando Gaspar vier anunciar o descalabro na execução orçamental do 1º trimestre de 2013 e a necessidade de mais medidas de austeridade, será o rebentar de convulsões sociais de consequências imprevisíveis. E aí, o CDS terá que tomar a decisão que anda a adiar há muito, tirando o apoio a Passos e levando o presidente a fazer o que se impõe. Sinceramente, não sei, ninguém sabe, o que se sucederá. Será que os sacrifícios já feitos não servirão para nada? Há muito tempo que advogo que a única solução é a renegociação da dívida e sem isso a economia nunca crescerá. Enquanto tivermos um encargo de 8 mil milhões por ano só para juros, jamais sairemos do buraco.
Comparo o que se está a fazer a Portugal, àquelas empresas que ficam na mão de filhos estouvados e mal preparados, quando os pais morrem. Filhos que tendo os pais abastados, nunca fizeram nada na vida a não ser gastar o seu dinheiro. O resultado é invariavelmente a falência das empresas em pouco tempo, por má gestão. É o que esta rapaziada que nos governa está a fazer. E a táctica é sempre a mesma: atira-se com um número para o ar, para assustar e depois da população se mentalizar e encaixar o golpe, aparece um ministro a "suavizar" a coisa, dizendo que afinal não são 20, mas apenas 15... Neste caso, o FMI aponta para 50 000 professores despedidos. Ora virá Nuno Crato daqui a algum tempo dizer que serão necessários "apenas" 30 000; O FMI diz que é preciso reduzir os ordenados e pensões em 20%. Virá depois Mota Soares ou Gaspar dizer que 10% será suficiente... Sei que este governo não teve culpa pelo estado a que o país chegou em 2011 e é bom não esquecer que é esse o motivo porque estamos a passar por tudo isto. Mas o que têm feito desde essa altura, mesmo que imposto, só tem agravado o problema. E não têm faltado avisos e alertas de todos os lados. Será preciso levar 80% da população à indigência, para depois se começar do zero? Penso e desejo que essa população não deixe que se chegue a esse ponto.
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