quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PORTAGENS

Dou início a este blogue, com um comentário à notícia do dia: começou hoje a cobrança de portagens nas SCUT. Acredito que neste momento de aflição que nos tem levado para uma voracidade tributária que parece não conhecer limites, é inevitável esta solução para tentar resolver, ainda que parcialmente, a irresponsabilidade e incompetência dos governantes que temos tido nos últimos anos, que têm sistematicamente adoptado em todas as áreas, políticas de curto prazo, não para resolver problemas e desenvolver o país, mas apenas para garantir a vitória nas eleições seguintes. Foi nesta génese que nasceram as PPP. Parcerias que faziam aparecer obras que, milagrosamente, ninguém tinha que pagar! As empresas construtoras que, como sabemos, têm como objecto social a benemerência e a filantropia, faziam as obras e o Estado beneficiava delas. Foi neste contexto simplista e de fábula que há uns anos atrás foi explicado à nação o conceito de PPP. Apareceram autoestradas por todo o lado, construiram-se hospitais, pontes e ganharam-se eleições. Entretanto o mundo mudou, acabou-se a vida a crédito, as facturas e os credores fazem fila para a cobrança e as autoestradas não podem ser devolvidas... Como é que se resolve? Mantendo a situação como está e aumentando ainda mais algum imposto, distribuindo a despesa por todos?(os que pagam, é claro) Aqui entra a justiça ou injustiça de serem todos a pagar um serviço que só é prestado a alguns. E o conceito agora muito em voga do "utilizador-pagador". Mas esta discussão levava-me a várias páginas de escrita que terei que condensar em próximos "desabafos". Em economia não há medidas inócuas; tudo consiste num jogo, nem sempre simples, de medição de vantagens e consequências. E aqui as consequências que me parecem fáceis de adivinhar é o soçobrar de muitas empresas já no fio da navalha e que não aguentarão mais um acréscimo nos custos de produção e o reconhecimento de muitas famílias de que não é mais viável viver no interior, trabalhar longe e servir-se para isso destas autoestradas, contribuindo assim, para a já irreversível desertificação de dois terços do território. Assim, a receita que se vai obter por esta via compensa o acréscimo de despesa que certamente criará? E os custos intangíveis associados? É difícil tomar (algumas) decisões, é verdade. Mas neste caso, parece-me que os custos por quilómetro são claramente exagerados. As autoestradas ficarão a ver passar o trânsito nas velhinhas estradas nacionais cheias de curvas e de buracos, onde eu me divertia nos anos 80, atrás das filas de camiões, porque não tinha pressa e havia meia dúzia de automóveis. Estradinhas a que voltarei com todo o prazer porque as utilizarei apenas para passear! Daqui a alguns meses cá estaremos para comentar  inevitáveis alterações que passarão, no mínimo, por uma revisão dos preços proibitivos agora aplicados.   

2 comentários:

  1. Ora aqui está uma boa reflexão que me suscita algumas considerações:
    - parece-me óbvio que esta cobrança exagerada, (com custos que para algumas empresas serão incomportáveis, assim como para muitas famílias) irá provocar ainda mais prejuízos e desespero nas famílias portuguesas, principalmente para quem tem que se deslocar para trabalhar e já são tão penalizados com impostos;
    - para evitar estes custos, irá notar-se uma redução significativa no tráfego das autoestradas, por parte dos automobilistas, o que irá reduzir imenso as receita que o Governo pretende arrecadar;
    - será que esta medida vai atingir os objectivos que se propõe ou, pelo contrário, ainda vai ter que ser retirada e voltar tudo ao que era ainda ontem?
    Gostei do comentário, aguardo mais opiniões corrosivas.
    Até à próxima!

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  2. Ou seja este PAÍS continuará fantástico para os ricos, a autoestrada agora sim para eles, depois de estar toda paga e mais que paga pelo resto da senzala.
    Júlia Pélé.

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