quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

NÃO PAGAMOS!

    Decididamente anda por aí algum vírus à solta a afectar o discernimento e a contenção verbal que se impunha no delicado momento que estamos a atravessar, aos políticos e responsáveis (?) partidários em geral. Hoje foi a vez do deputado e dirigente socialista Pedro Nuno Santos levantar uma enorme polémica ao vir a público as suas afirmações de que Portugal devia fazer "bluff" com os seus credores, ameaçando não pagar a dívida, obrigando-os a renegociá-la porque em caso contrário, deixávamos de pagar, pois então! Que os banqueiros alemães ficavam logo com as pernas a tremer! Eu acho até que se isso acontecesse eles teriam que andar seis meses no psicólogo... E, para cúmulo, terminando com a afirmação que entre os credores e os portugueses ele escolhia defender os portugueses é claro! Pois na parte que me cabe, eu dispenso bem defensores deste calibre! Mas estes senhores têm bem a noção do que dizem? Mas eles pensam mesmo que nós estamos em posição de impôr a alguém o que quer que seja? A única conclusão a que se pode chegar é que ainda não cairam na realidade. Pensam que Portugal representa o quê, dentro da União Europeia? Nós estamos completamente nas mãos dos credores e não vale a pena andar com bravatas de mau gosto que só ajudam a complicar mais a nossa situação. O que é isso de defender os portugueses? Quais? Só se for os que têm contas recheadas em bancos suíços e offshores, porque todos os outros dependem dos cheques trimestrais que a "troika" for assinando. Se esses cheques deixassem de vir a primeira consequência seria o imediato corte no pagamento de pensões, reformas, vencimentos da função pública e administração local, subsídios de desemprego, RSI, pagamento a fornecedores por parte do Estado, ou seja o caos absoluto. Logo a seguir o cancelamento do fornecimento de petróleo, pago em dólares (talvez o amigo Chávez ou o espírito de Khadáfi nos oferecessem uns barrilitos) e dos produtos alimentares de primeira necessidade, nomeadamente cereais de que somos quase dependentes na totalidade. Imagino que seja este cenário que o sr. deputado considera ser defender os interesses dos portugueses... Ou pensa que alguém lá fora se preocupa com rupturas sociais, que o desemprego seja de 13% ou de 20%, que haja fome ou não haja? Veja-se o que se passa na Grécia e se os outros países europeus se preocupam com isso. A intenção da Alemanha é punir os países que estão nesta situação, por isso quanto mais esta se degradar mais eles aplaudem. A nossa única saída é cumprir o que foi acordado, por muito que nos custe e depois, se o conseguirmos, daqui a um ano, com esse trunfo na mão tentar renegociar os termos do pagamento da dívida, nomeadamente a taxa de juro e o prazo de pagamento. Depois, logo se verá. Eu sou dos que pensam que nunca conseguiremos pagar o que devemos. Há vários anos que dizia que estávamos a entrar numa espiral de dívida muito perigosa e que se houvesse uma crise internacional que fizesse parar o crescimento das economias, pondo a realidade a nu e arrastando-nos para crescimentos de zero ou mesmo de recessão, nem para  pagar os juros teríamos capacidade. Portanto, com hair-cut, ou sem hair-cut, nós não conseguiremos pagar e isso virá ao de cima quando se acabarem os 78 mil milhões e os mercados estiverem fechados na mesma para nós. E aí é que vai ser altura de grandes decisões: se ainda houver o euro e eu acredito que sim, provavelmente empurrar-nos-ão para fora, em troca de um perdão parcial da dívida e teremos que recomeçar, como uma família falida que ficou sem os bens e sem ordenado, perdendo metade do nosso nível de vida actual. A menos que haja entretanto um milagre, não me parece que se encontrem alternativas.
       Portanto não vale a pena andar a ameçar quem nos põe comida na mesa todos os dias. Ou de onde é que o sr. deputado pensa que vem o orçamento da Assembleia da República? Provém de alguma venda de artesanato que os cidadãos desconhecem? Pensava que era só a multidão de iletrados que constitui mais de metade da população portuguesa que não tinha a mínima noção da gravidade da situação em que nos encontramos, mas fico deveras preocupado quando constato que afinal dentro desse grupo cabem também muitos dos que directa ou indirectamente tomam decisões por nós e que afectam as nossas vidas no presente e no futuro.     

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