sábado, 31 de dezembro de 2011
TAXAS MODERADORAS
Nos últimos dias tem-se falado muito de taxas moderadoras na saúde, por causa do aumento que vão sofrer em 2012. O sentido da existência destas taxas é, como o seu nome indica, o de moderar o acesso ao serviço público de saúde. Porque infelizmente, o pensamento reinante é o de que tudo o que é gratuito na sua utilização é para usufruir até à exaustão. Ora se for verdadeira a afirmação do ministro da saúde de que mais de metade da população portuguesa ficará isenta do seu pagamento, então as taxas não cumprirão a finalidade para que foram criadas. Todos sabemos que muitos dos assíduos utilizadores das consultas dos centros de saúde não têm qualquer doença, servindo-se daquele espaço como se de um centro de dia se tratasse, ocupando as vagas existentes e não deixando depois espaço a quem efectivamente dele necessita. Mas este segmento da população ficará na mesma isento do pagamento das taxas moderadoras, mantendo-se portanto o mesmo procedimento da sua parte. Logo, o que se vai pôr em prática é efectivamente um co-pagamento encapotado. Dirigido a quem? Aos mesmos de sempre: aos que pagam tudo em Portugal; os que por trabalharem por conta de outrém e não poderem escapar ao fisco pagam tudo o que os ricos não pagam porque nunca pagaram e nunca pagarão e os isentos de tudo por declararem como rendimento o ordenado mínimo nacional mesmo que se desloquem em viaturas de luxo registadas em nome de empresas de renting. Portanto os utilizadores do SNS que se deslocam à urgência hospitalar na sequência de um espirro seguida da exigência de uma TAC ao septo nasal e de uma ressonância magnética à Trompa de Eustáquio, vão continuar a fazê-lo porque estão isentos de qualquer pagamento. Se se quisesse de facto moderar a utilização do SNS todos teriam que pagar, mesmo que uma quantia simbólica. Diferentes soluções poderão aceitar-se no momento actual para aconchegar os depauperados cofres estatais, mas não nos venham dizer que são taxas moderadoras porque não moderarão o que quer que seja!
domingo, 25 de dezembro de 2011
SAUDADES DO NATAL

Acreditei até aos sete anos que era o Menino Jesus que, descendo pela chaminé, depositava as prendinhas nos sapatinhos, ordenadamente dispostos em cima do fogão. E vivi cada Natal com esta doce e inocente ilusão, até que, com alguma dose de sadismo misturada com um completo desprovimento de qualquer noção de pedagogia e talvez, quem sabe, algum remoto recalcamento, a minha catequista da altura, me ridicularizou perante todos os outros, pouco antes do início da missa dominical das 10 horas, por, com aquela idade pasme-se, ainda acreditar naquilo que aureolava o meu Natal de fascínio e de magia! Tirando este pormenor da diplomática e benevolente intervenção da catequista no sentido de esclarecer devidamente a criança de 7 anos, que eram os pais e não o Menino que davam as prendinhas, esclarecimento que bem dispensava e intimamente nunca lhe perdoei, o Natal era também a época em que se comiam coisas boas, a que não tínhamos acesso no resto do ano, dando-lhe assim maior valor. Na tarde de dia 24, amassavam-se as filhós e preparavam-se outras iguarias, que ocupavam toda a família e todo o dia. Depois, enquanto a massa das filhós "crescia", esperando que o fermento fizesse o seu trabalho, celebrava-se a tão aguardada consoada, com a ceia de Natal congregando à mesma mesa toda a família, em esfuziante alegria. Pouco depois, o momento principal: todos rumavam à igreja para participar na missa do galo, com festivos cânticos de Natal. E após o regresso, fritavam-se então as filhós, madrugada fora, com a excitação do aproximar da manhã de dia 25 e de, finalmente, correr à cozinha para ver o conteúdo dos mágicos embrulhos em cima e em redor do fogão... Tudo era acolhido com enorme alegria, fosse um carrinho, um boneco, material escolar ou roupa, dada a escassez de meios que caracterizava a generalidade das famílias nessa época.
E hoje? Claro que o Natal continua a ser uma quadra normalmente associada a alegria, a uma maior predisposição para partilhar, sentimento que durante o resto do ano anda mais arredio e à oportunidade de, pelo menos uma vez no ano, se reunir toda a família. Mas... falta aquela tal aura de mistério que, eu acho que desapareceu. Penso que o Natal também tem sido arrastado no processo de banalização em que as sociedades modernas mergulharam quase todos os acontecimentos e eventos. Hoje começa a preparar-se o Natal pouco depois do fim da época balnear. Por vezes, em Outubro já se ouve publicidade alusiva à quadra e as iluminações começam a ser montadas cada vez mais cedo. As estações de televisão massacram-nos com publicidade e programas sobre o tema do Natal desde a mesma altura, de modo que quando chegamos a 25 de Dezembro, já estamos cansados do ambiente que dura há dois meses. As crianças e adolescentes, desde sempre as mais ansiosas pela chegada do Natal, já quase se limitam a abrir freneticamente embrulho após embrulho, saciando a curiosidade sobre o que cada um contém, para, pouco depois, pôr tudo de lado com ar de tédio. Os adultos, por sua vez, instalam-se à mesa, repleta de comida e bebida e à volta da qual se passa cada vez mais tempo. Até o clima deixou de contribuir para o ambiente natalício, com o Verão a prolongar-se cada vez até mais perto de Dezembro.
Acho que se retirou a essência ao Natal e isso está a banalizá-lo. O Natal é cada vez mais a festa do mercantilismo e das grandes superfícies comerciais. O aumento do poder de compra nos últimos anos, da diversidade de bens disponíveis e do endividamento, assim o determina. Basta olhar os contentores do lixo na manhã de 25 de Dezembro... Mas... tudo tem o seu preço!
Tenho saudades do meu Natal!...
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
DIREITOS SÓ PARA ALGUNS
Estamos habituados a ouvir dizer que Portugal é um dos países onde existem mais desigualdades: e é verdade! Por exemplo, nos direitos e nos deveres. Há grupos e classes profissionais que só têm direitos e para isso poder acontecer há outros que só têm deveres... Vem esta reflexão a propósito de nova greve dos maquinistas da CP. Não sei se é a terceira, a quinta ou a vigésima deste ano que está a findar, porque são tantas que lhes perdemos a conta. Eles têm os seus direitos e estão a defendê-los_ dir-me-ão. Pois sim, e os utentes dos transportes, não têm direitos também? Não têm direito a ter o transporte os que pagam o passe antecipadamente e que quando o vão utilizar não o podem fazer porque há greve? E já alguém pensou nos direitos de toda a população portuguesa, que é proprietária da CP porque se trata de uma empresa pública, de ver os impostos que permitem que ela funcione, serem aplicados de maneira a que pelo menos se possam servir dela quando precisam? É que há mais de trinta anos que dura este serviço interpolado da CP em que nunca se sabe bem quando há greve ou não; umas vezes é por meia dúzia de horas, outras vezes é por tempo indeterminado e outras ainda é às horas extraordinárias. E os utentes que pagam, pagam sempre, chegam às estações e não têm o seu serviço de transporte garantido porque os maquinistas ou às vezes outros estão em greve a defender os seus direitos. Quando me vierem aplicar alguma taxa extra sobre o meu IRS para pagar os mais de três mil milhões de passivo da CP, a quem e como é que eu peço para defender os meus direitos?
Desta vez, parece que a greve é porque a administração da empresa instaurou processos disciplinares a alguns maquinistas que não cumpriram os serviços mínimos obrigatórios em anteriores greves. Bem, se é assim, a população deve ouvir isto e ficar boquiaberta! Então se os serviços mínimos são decretados por um tribunal arbitral e se não foram cumpridos, o que se espera que aconteça? Quem não cumpre a lei não espera vir a ser penalizado? Pelo menos nos países normais é assim! Se acham que há alguma irregularidade na atribuição desses serviços mínimos, ou qualquer outra, isso deve ser dirimido nos tribunais de trabalho, pois foi para isso que foram criados. Então em qualquer empresa um grupo de trabalhadores apetece-lhe sair antes da hora, sem pedir autorização, o patrão aplica-lhes um processo disciplinar e a seguir fazem greve porque não concordam com a penalização? Por vezes penso que eu é que devo andar com o passo trocado...
Há grupos profissionais nas empresas públicas que se arvoram em donos das mesmas. Os dois casos mais flagrantes são os pilotos da TAP e os maquinistas da CP. Estes últimos têm um fundo de greve, que lhes permite ganhar mesmo estando em greve. São eles que descontam para isso, é verdade, mas acho que de vez em quando têm que esgotar o plafond que está acumulado no referido fundo... Mas que alguém já devia ter tomado medidas para acabar com esta situação, isso já. Os direitos de meia dúzia de pessoas, não podem ser sobrevalorizados face aos direitos de toda a restante população que não tem maneira de os fazer valer, neste caso. E ainda por cima é quem paga e bem!É também por isto que o conjunto de empresas de transportes públicos chegou à situação de falência em que todas se encontram. Quando for preciso capitalizá-las para as vender ou para as reestruturar são os que agora ficam resignados nas estações à espera que apareça algum comboio, que vão pagar! Nessa altura, apresento a conta da minha quota-parte a quem? Posso ficar com a estação do Rossio, como no monopólio?...
Desta vez, parece que a greve é porque a administração da empresa instaurou processos disciplinares a alguns maquinistas que não cumpriram os serviços mínimos obrigatórios em anteriores greves. Bem, se é assim, a população deve ouvir isto e ficar boquiaberta! Então se os serviços mínimos são decretados por um tribunal arbitral e se não foram cumpridos, o que se espera que aconteça? Quem não cumpre a lei não espera vir a ser penalizado? Pelo menos nos países normais é assim! Se acham que há alguma irregularidade na atribuição desses serviços mínimos, ou qualquer outra, isso deve ser dirimido nos tribunais de trabalho, pois foi para isso que foram criados. Então em qualquer empresa um grupo de trabalhadores apetece-lhe sair antes da hora, sem pedir autorização, o patrão aplica-lhes um processo disciplinar e a seguir fazem greve porque não concordam com a penalização? Por vezes penso que eu é que devo andar com o passo trocado...
Há grupos profissionais nas empresas públicas que se arvoram em donos das mesmas. Os dois casos mais flagrantes são os pilotos da TAP e os maquinistas da CP. Estes últimos têm um fundo de greve, que lhes permite ganhar mesmo estando em greve. São eles que descontam para isso, é verdade, mas acho que de vez em quando têm que esgotar o plafond que está acumulado no referido fundo... Mas que alguém já devia ter tomado medidas para acabar com esta situação, isso já. Os direitos de meia dúzia de pessoas, não podem ser sobrevalorizados face aos direitos de toda a restante população que não tem maneira de os fazer valer, neste caso. E ainda por cima é quem paga e bem!É também por isto que o conjunto de empresas de transportes públicos chegou à situação de falência em que todas se encontram. Quando for preciso capitalizá-las para as vender ou para as reestruturar são os que agora ficam resignados nas estações à espera que apareça algum comboio, que vão pagar! Nessa altura, apresento a conta da minha quota-parte a quem? Posso ficar com a estação do Rossio, como no monopólio?...
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
NÃO PAGAMOS!

Portanto não vale a pena andar a ameçar quem nos põe comida na mesa todos os dias. Ou de onde é que o sr. deputado pensa que vem o orçamento da Assembleia da República? Provém de alguma venda de artesanato que os cidadãos desconhecem? Pensava que era só a multidão de iletrados que constitui mais de metade da população portuguesa que não tinha a mínima noção da gravidade da situação em que nos encontramos, mas fico deveras preocupado quando constato que afinal dentro desse grupo cabem também muitos dos que directa ou indirectamente tomam decisões por nós e que afectam as nossas vidas no presente e no futuro.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
LEI DA SELVA

É por termos gente desta a (des)governar-nos há 35 anos que chegámos aonde estamos agora. Como todas estas pessoas recebem pensões acima de 5000 euros e são agora alvo de cortes de 25 ou 50% sobre os montantes que excedem os 5000 ou os 7500 euros, respectivamente, eu se fosse ministro das finanças mandava blindar as portas do ministério, não vá alguém descontente com estas medidas lembrar-se de adoptar semelhantes comportamentos ali para os lados da Praça do Comércio...
sábado, 10 de dezembro de 2011
EM DEFESA DA LÍNGUA

Poderia infelizmente arranjar muitos mais exemplos, correndo assim o risco de me tornar maçador. A verdade é que parece que temos vergonha da nossa língua, que é falada em todos os continentes e por muito mais pessoas do que o italiano ou o alemão, por exemplo. E que dizer do acordo ortográfico, em que cedemos em toda a linha aos interesses do Brasil? Porque são quase 200 milhões? Seria possível Inglaterra fazer um acordo semelhante para agradar aos americanos? E que dizer do repatriamento de parte dos já poucos professores de língua portuguesa que temos nos países de maior presença de emigrantes e nos PALOP'S e Timor? E da completa ausência de apoio para aí fomentar a leitura do português, nomeadamente através de bibliotecas?
Estamos todos fartos de palavras, mesmo que pronunciadas em português... Por esta permanente lassidão, subserviência e pequenas cobardias é que não paramos de nos afundar como nação, desde Alcácer-Quibir!
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
PORTAGENS
Dou início a este blogue, com um comentário à notícia do dia: começou hoje a cobrança de portagens nas SCUT. Acredito que neste momento de aflição que nos tem levado para uma voracidade tributária que parece não conhecer limites, é inevitável esta solução para tentar resolver, ainda que parcialmente, a irresponsabilidade e incompetência dos governantes que temos tido nos últimos anos, que têm sistematicamente adoptado em todas as áreas, políticas de curto prazo, não para resolver problemas e desenvolver o país, mas apenas para garantir a vitória nas eleições seguintes. Foi nesta génese que nasceram as PPP. Parcerias que faziam aparecer obras que, milagrosamente, ninguém tinha que pagar! As empresas construtoras que, como sabemos, têm como objecto social a benemerência e a filantropia, faziam as obras e o Estado beneficiava delas. Foi neste contexto simplista e de fábula que há uns anos atrás foi explicado à nação o conceito de PPP. Apareceram autoestradas por todo o lado, construiram-se hospitais, pontes e ganharam-se eleições. Entretanto o mundo mudou, acabou-se a vida a crédito, as facturas e os credores fazem fila para a cobrança e as autoestradas não podem ser devolvidas... Como é que se resolve? Mantendo a situação como está e aumentando ainda mais algum imposto, distribuindo a despesa por todos?(os que pagam, é claro) Aqui entra a justiça ou injustiça de serem todos a pagar um serviço que só é prestado a alguns. E o conceito agora muito em voga do "utilizador-pagador". Mas esta discussão levava-me a várias páginas de escrita que terei que condensar em próximos "desabafos". Em economia não há medidas inócuas; tudo consiste num jogo, nem sempre simples, de medição de vantagens e consequências. E aqui as consequências que me parecem fáceis de adivinhar é o soçobrar de muitas empresas já no fio da navalha e que não aguentarão mais um acréscimo nos custos de produção e o reconhecimento de muitas famílias de que não é mais viável viver no interior, trabalhar longe e servir-se para isso destas autoestradas, contribuindo assim, para a já irreversível desertificação de dois terços do território. Assim, a receita que se vai obter por esta via compensa o acréscimo de despesa que certamente criará? E os custos intangíveis associados? É difícil tomar (algumas) decisões, é verdade. Mas neste caso, parece-me que os custos por quilómetro são claramente exagerados. As autoestradas ficarão a ver passar o trânsito nas velhinhas estradas nacionais cheias de curvas e de buracos, onde eu me divertia nos anos 80, atrás das filas de camiões, porque não tinha pressa e havia meia dúzia de automóveis. Estradinhas a que voltarei com todo o prazer porque as utilizarei apenas para passear! Daqui a alguns meses cá estaremos para comentar inevitáveis alterações que passarão, no mínimo, por uma revisão dos preços proibitivos agora aplicados.
Subscrever:
Mensagens (Atom)