quarta-feira, 13 de março de 2013

A TROIKA E OS REFORMADOS

    Temos assistido nos últimos tempos à introdução na sociedade portuguesa de um sem número de clivagens e tensões, na sua maioria desnecessárias e perfeitamente evitáveis, se houvesse tento na língua, algum talento político e uma pitada de bom senso. Nada que pareça existir nos dias que correm. Têm-se colocado novos contra velhos, sector público contra sector privado, reformados contra trabalhadores no activo e agora, veja-se bem, prepara-se a divisão entre reformados do sector público e da Segurança Social! Ao que parece, a troika exige que se equiparem ou aproximem os valores das pensões de ambos os sectores, já que a média do valor dos da Segurança Social é muito inferior à média dos da CGA. Bom, mas é este o critério? A média dos valores? Será que se preocuparam em averiguar os motivos para essa discrepância de valores? Se o objectivo for igualar a fórmula de cálculo das pensões, estaremos quase todos de acordo, mas falar agora na diferença de valores? Alguém explicou aos troikanos porque será que existe essa diferença? Se calhar não, porque quem se reúne com eles provavelmente também não está muito por dentro dessa realidade. Alguém lhes explica, por favor, que uma boa parte dos actuais reformados da Segurança Social, sempre apresentou como rendimento, o salário mínimo nacional, mesmo que auferisse na realidade várias vezes esse valor e assim fugiu ao fisco durante toda a sua carreira contributiva? E que recebe agora trezentos euros, mas tem uma bem recheada conta bancária, fruto dessa sistemática fuga, em alguns casos com 2 ou 3 milhões de euros e património de centenas de milhar? ( Não, não estou a falar de carpinteiros, mecânicos ou canalizadores, mas de industriais de vários ramos...) Ou que, aproveitando a antiga fórmula de cálculo em que contavam os melhores 10 anos dos últimos 15 da carreira contributiva, declaravam o salário mínimo nos primeiros 25 e depois nos últimos 10, aumentavam esse salário para 2 ou 3 mil euros e era sobre esse valor que incidia o cálculo para a reforma? Ou as domésticas que nunca trabalharam para patrão algum e que depois de 1974, bastando arranjar uma assinatura de alguém que se afirmasse seu empregador, estão agora a receber reforma? A troika sabe que nenhum funcionário público pode fugir ao flagelo do fisco, mas que no sector privado, só os trabalhadores por conta de outrém não o fazem? Alguém lhes explica tudo isto, por favor? É por isto que é muito perigoso pôr gente que nada sabe de um país, a comandá-lo com medidas que tiram de um cardápio igual para todos. E que depois venham governos aplicá-las com a desculpa que foram os credores que mandaram...

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