O Arquitecto Ribeiro Teles, numas conversas nos jardins da Fundação Gulbenkian, chamou de novo a atenção para o problema da desertificação das aldeias. Infelizmente anda a bradar no deserto há décadas, sem qualquer resultado, nesta como em outras questões. Concordo com quase tudo o que ele diz sobre este assunto. Já há anos que eu escrevi que esta situação decorre em boa parte pela falta de cultura e de informação da população em geral, mas em primeiro lugar, dos decisores, quer no governo central, quer nas autarquias. Muitos, são ignorantes com diplomas de cursos superiores. Alguns, tenho a certeza que se lhes pedissem para apontar num mapa de Portugal, meia dúzia de sedes de concelho, não faziam a menor ideia onde colocar o ponteiro! Os discursos, são invariavelmente em defesa do interior do país, mas a prática tem seguido sempre linha oposta. E nisto, têm sido todos iguais: encerramentos sucessivos de tudo o que segura as populações às suas terras: escolas, centros de saúde, hospitais, quartéis de GNR e PSP, centros regionais de segurança social, delegações do ministério da agricultura, centros de atendimento de empresas públicas como EDP, PT, CTT e agora os tribunais. As linhas ferroviárias começaram a ser abatidas na década de 80 e desde aí não mais pararam. Há imensas localidades no interior em que as pessoas estão presas por não terem qualquer meio de transporte para de lá sairem. Já assisti à organização de uma surtida a Bragança, desde Montezinho, em cima da caixa aberta rebocada por um tractor agrícola, de meia dúzia de idosos, para ali tratarem dos seus assuntos.
As pessoas só ficam nas suas terras de origem se lá tiverem um mínimo de serviços aceitáveis e se houver actividade económica que sustente as populações. A agricultura foi liquidada desde que entrámos na então CEE e, como passámos a ser ricos desde então, não precisávamos de produzir o que quer que fosse, pois era mais prático comprar tudo lá fora. Agora passou a ser moda ter uma pequena horta à porta e é ver os portugueses a correr aos centros comerciais, mas para comprar enxadas, plantas e adubos... Ouço falar tanto na reserva estratégica de petróleo e quem é que se preocupa com reserva estratégica de alimentos? Se houvesse um corte abrupto de fornecimento de alimentos básicos, provocado por uma catástrofe natural ou uma guerra nos países produtores, em menos de três meses metade da população morria de fome. E quem é responsável por este estado de coisas? Em Portugal, ninguém, obviamente! Ordenamento do território? Desenvolvimento equilibrado? Com distritos como Portalegre a eleger dois deputados? Quem se preocupa com esta gente esquecida? É em Lisboa, Porto, Braga e Setúbal que se vencem eleições... Como eu costumo dizer, tudo tem o seu preço, neste caso, o do mau funcionamento da democracia...
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