domingo, 26 de maio de 2013

VISITAR A MEMÓRIA, 37 ANOS DEPOIS...

Ontem, sábado, foi um dia de muitas emoções e alegrias. Volvidos 37 anos, um grupo de antigas colegas de curso do Magistério Primário de Caldas da Rainha, de 74/76, pensou e levou por diante um almoço de confraternização com todos os que puderam estar presentes e que se conseguiram contactar. Quase todos compareceram, exceptuando os imponderáveis de última hora e aqueles a quem a chamada de Deus chegou primeiro que a nossa. Marcámos encontro na esplanada do parque D. Carlos. E foi emocionante rever as colegas, quase 4 décadas depois. No meu caso, desde 1976 tinha encontrado apenas as que me estão mais próximas e a São Rilhó, a Leonor e a Lena Coelho, quando estive a trabalhar na CGD em Alcobaça. Há pouco tempo encontrei também a Isabel Cardoso no Bombarral. Todas as outras porém, reencontrei-as apenas ontem. E, apesar das inevitáveis alterações fisionómicas na maioria de nós, que as marcas inexoráveis do tempo nos acrescentaram, reconhecemo-nos, identificámo-nos e recuámos rapidamente até aos já distantes anos de 1974/75/76. O espaço de uma geração! Muitas, talvez a maioria, já têm netos! Quando ali mesmo ao lado, naqueles enormes, antigos, mas ainda belos edifícios, agora escandalosamente ao abandono, comparecíamos diariamente para nos prepararmos para sermos professores primários (eu continuo e continuarei a chamar-lhes assim), éramos um grupo de jovens inexperientes mas cheios de projectos, com vontade de aprender, de fazer coisas, de empreender. Havia algumas colegas com um pouco de mais idade, mas a maioria tinha menos de 20 anos. E tínhamos ainda os juvenis, entre os quais eu me encontrava, com 15 anos apenas! Um "puto"! Cheio de cabelo, com um bigodito mal semeado a despontar, que dizia umas piadas, fazia milhares de cópias na máquina de "stencil", que jogava badminton no ginásio com a Celeste Avelar a quem carinhosamente chamávamos de "Letinha". 37 anos passados, o cabelo "voou"  levado pelo vendaval da vida, o bigode ganhou ânimo mas mudou de côr, as piadas vão rareando, as cópias agora fazem-se com recurso ao "copy-paste" e o badminton deu lugar às viagens de autocaravana. O tempo, esse nivelador imparcial e implacável, tudo traz e tudo leva! Lembro-me com saudade da interminável escadaria que nos guindava ao último andar onde funcionava a nossa escola. A escadaria que a saudosa D. Alzira, então já com perto de 70 anos, subia penosamente, degrau a degrau, até finalmente atingir o topo, exausta! A Miquelina à entrada, espreitando com ar austero, por trás das suas lentes de "fundo de copo de três", mas que tinha sempre um sorriso doce para mim; a Ivone em seguida e a Gertrudes no balcão; a São da secretaria; os professores, a D. Adosinda, o Prof. Raposo, o Bento Monteiro, o Padre Manel, o Prof. Néné, o director Prof. Fonseca Lopes... Eu era um benjamim, pela curta idade e por ser um espécime raro ali, um ser do sexo masculino! Na minha turma era o único rapaz, em 33 alunos! Não foi uma situação fácil, mas que se viveu com normalidade e até com algumas vantagens e episódios picarescos! Acabamos sempre por nos aproximar mais de algumas pessoas, ou por maiores semelhanças de pensamento, ou simplesmente por pertencermos a um mesmo grupo de trabalho. Foi o que sucedeu comigo, com a Isabel Alberto, a Isabel Machado, a Celeste Avelar e a Manuela Silva. E encontrámo-nos todos ontem, tanto tempo depois! Lamentavelmente, não reconheci a Celeste, que pensei não estar presente. Afinal, quando já cá fora perguntei por ela, indicaram-me a traseira de um automóvel que acabava de sair do estacionamento do restaurante! Fiquei com pena. Conversei mais demoradamente com a Fernanda, que mantém intocável toda a sua irreverência e boa disposição. Muitas colegas já estão aposentadas. Afinal, já passaram 37 anos! Constituiram-se famílias, percorreram-se e terminaram-se carreiras, cumpriram-se sonhos, interromperam-se percursos felizes, partiram alguns antecipadamente... Cada um de nós com a sua história. Histórias que avidamente nos apeteciam narrar, tarefa impossível, condensar 37 anos de acontecimentos, em apenas 4 horas... Mas que ficarão para breve! Foi engraçado verificar e filtrar as mudanças operadas na nossa aparência, comparando-as com as imagens gravadas no cérebro jovem de outrora! E constatar que houve alguns casos em que o tempo se esqueceu de deixar a sua marca, como por exemplo a surpreendente Jú, que tem a mesma silhueta e o mesmo rosto bonito que eu via à minha frente, naquelas salas dispostas em "U", enquanto ouvíamos pacientemente as intermináveis e fabulosas historietas do Bento Monteiro! Que saudades! Já quase todas chegaram ao final do seu percurso profissional. Algumas ainda trilham as derradeiras etapas, num caminho que inesperadamente se tornou tortuoso e cheio de escolhos, numa fase da vida em que a perseverança e a confiança já se encontram em plano descendente. É preciso não desesperar e acreditar que por vezes nem tudo é tão mau como tememos. E que quando pensamos que estamos mal, basta olhar em volta e verificar que há sempre alguém pior que nós!
     Espero manter-me em contacto com quem anda por aqui a navegar por estes mares da modernidade, partilhando desabafos, arrelias, graçolas, memórias, ideias. Acreditem que gostei muito de vos ver. O que me trouxe exigências de repetir... Até lá!

1 comentário:

  1. Gostei muito de ler este teu apontamento. Recordar é viver e ontem foram curtas as horas para pormos as n/ vidas em dia.O que vale são as novas tecnologias que nos ajudam a estarmos + perto uns dos outros.
    Um beijinho para ti João e para todos os colegas que viveram connosco esta bela tarde.

    Dina

    ResponderEliminar