O governo tem-nos habituado a uma táctica que, não sendo nova, não era utilizada com tanta insistência há muito tempo. Trata-se de, em relação ao anúncio de medidas impopulares e quantificáveis, atirar com um número assustador para o ar, para as pessoas ficarem apavoradas e irem digerindo e encaixando o golpe, para depois daí a uns dias (por vezes algumas horas depois), aparecer alguém a amenizar o panorama, dizendo que afinal não será preciso ir tão longe e as vítimas respiram de alívio, por afinal não ser assim tão mau. Foi o que se passou com a TSU, ou com a sobretaxa de IRS, que seria de 4% e acabou por ficar em 3,5%. Mas temos vários outros exemplos. Se Gaspar acha que são precisos 3000 milhões, anuncia 4000 milhões de cortes, para depois, com algumas pseudo-negociações, ficar nos pretendidos 3000 milhões...
Pois desta vez, o primeiro ministro provou do seu próprio veneno. No Conselho Europeu que decorreu em Bruxelas no passado dia 8 e em que se discutia o orçamento da União Europeia para os próximos 7 anos, com a ameaça a pairar no ar de cortes de 20% em relação ao período anterior, os cortes para a coesão e a PAC acabaram por ficar em 13%, na média dos 27 estados. No entanto, para Portugal o corte situou-se nos 9,7%. Para PPC, como a ameaça inicial era de 20%, 9,7% acabou por ser bom! Alguém deve ter ficado com um sorriso irónico nos lábios, em Bruxelas, ouvindo o tom benevolente e resignado com que aceitámos o inevitável. É que vão longe os tempos de abastança europeia em que se distribuíam milhões pelos países da coesão, como quem distribui rebuçados num jardim de infância e em que Portugal tinha amigos bem colocados e que eram estadistas de peso, como Jacques Delors e Helmut Kohl. Agora acabaram os milhões e os estadistas foram substituídos por pigmeus da política. O único que nos restava, acabou de se despedir: Jean Claude Juncker. Com um holandês no seu lugar, é mais um falcão de olhos cravados nos nossos orçamentos e derrapagens de défices. Aguardemos os próximos capítulos...
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