De regresso, com mais tempo para o habitual comentário verrinoso...
Ouvi e vi hoje uma reportagem feita na Croácia, sobre o desemprego jovem. Se não fosse a língua denotando as origens geográficas, as perguntas, as respostas, os desabafos, as críticas, as esperanças e desilusões podiam ter sido captadas em qualquer parte do mundo actual. Costumamos dizer que "com o mal dos outros podemos nós bem". Mas este é um problema que aflige quase todo o mundo desenvolvido, actualmente. Já ouvíamos frequentemente falar dele como um fenómeno endémico, em África e no mundo árabe, por exemplo. Mas aí, os jovens representam em alguns casos, mais de 50% da população e as débeis economias não criam nem de perto nem de longe, emprego para toda essa juventude, o que tem provocado convulsões sociais graves, que estiveram na origem da chamada "Primavera Árabe", como se sabe. Mas este problema tem vindo a agravar-se no mundo desenvolvido, onde, paradoxalmente, as taxas de natalidade têm vindo a baixar, fazendo supor que havendo menos jovens, seria mais fácil a sua integração no mercado de trabalho. A culminar, deu-se a crise financeira de 2008, na qual estamos ainda mergulhados, que destruiu economias, milhões de empregos e cujo fim não se vislumbra. Vamos a Espanha, Itália, Grécia, Irlanda, França, Bélgica, todos os países de leste, repúblicas bálticas e o discurso dos jovens é igual em todo o lado: " no nosso país não há emprego e os patrões exploram-nos, oferecendo-nos ordenados de miséria e péssimas condições de trabalho, por isso a solução é emigrar"... De repente todos pensam emigrar. Mas emigrar para onde? Milhões de jovens, a maioria com grandes currículos académicos nos quais os seus países investiram rios de dinheiro, todos sem futuro, com o olhar vago, sem esperança. A Alemanha, a Suiça e a Noruega acolhem esta gente toda? É claro que não! Aliás, já estão a fechar as portas. Isto faz-me lembrar o mercantilismo na Europa dos séc. XVII e XVIII; de repente todos descobriram que a riqueza se conseguia vendendo produtos aos outros, e através de barreiras alfandegárias, dificultando a entrada dos produtos alheios. Ora é claro que assim, ninguém vendia nada a ninguém... O que é que a humanidade andou a fazer, oferecendo cursos e excelente formação a todos estes jovens para agora não saber o que fazer deles? Basta ver o triste espectáculo das cimeiras e reuniões, em que dirigentes políticos entram e saem, sempre sorridentes, com palavreado de circunstância, mas um enorme vazio de ideias e de soluções. Os diagnósticos estão todos feitos, esses também eu sei fazer. E soluções? Onde estão os estadistas, com rasgo, com capacidade de visão e decisão? Quando é que desaparecem os pigmeus que povoam todos os lugares de decisão na Europa? Antes que a tampa salte com consequências imprevisíveis...
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