sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

PENA DE MORTE, EM PORTUGAL



Esta semana, chegaram ao conhecimento da opinião pública vários casos de doentes sinalizados em operações de rastreio de cancro colo-rectal, para fazerem colonoscopias para colheitas de biópsias ou confirmação de diagnóstico. Nós já suspeitávamos que houvesse listas de espera de meses para exames vários, mesmo na área da oncologia, mas para sabermos toda a verdade e dimensão do problema, têm que ser as duas televisões privadas a fazer investigação. E assim, soube-se que uma doente a quem um rastreio deu positivo e encaminhada para fazer uma colonoscopia, entrou numa lista de espera num hospital público, até que 2 anos (!!) depois lhe foi diagnosticado um tumor no cólon, já em fase de não poder ser operado. Ou seja, numa linguagem dura, mas que espelha a realidade, o SNS condenou esta mulher à morte! Ontem, um outro caso foi contado na primeira pessoa, tendo o mesmo hospital como interveniente. Um homem, com dores abdominais e sangue nas fezes, a quem o médico de família pediu uma colonoscopia, esteve meses à espera da mesma, com dores que considerava insuportáveis, até que, a família pobre se quotizou para pagar essa colonoscopia numa unidade privada ( 565€), que confirmou a existência de um tumor no intestino. O homem foi operado, já tarde, é claro e está a fazer quimioterapia, mas com prognóstico negativo. Quantos casos haverá, nesta área de oncologia, em que cada dia a mais pode significar a diferença entre a vida e a morte? Sempre tenho dito que as duas grandes conquistas do 25 de Abril, foram a liberdade e o SNS. Mas este está a ser estrangulado por restrições financeiras que lhe estão a retirar os meios, quer em pessoal quer em medicamentos, instrumentos e MAD. E enquanto isto se passa, vemos e ouvimos casos de autênticos assaltos a esse mesmo SNS por parte de quem devia ser insuspeito, como quadrilhas compostas por médicos, farmácias, delegados de propaganda médica. O que sentirão estas pessoas condenadas à morte, por estarem à espera meses ou anos por um exame, que lhes dizem não poder ser feito, por falta de verbas? Nunca pensei ver o meu país chegar a este estado. Podia faltar o dinheiro para estradas, para investimento em diversas áreas, para forças armadas, para pagar compromissos com empresas, fossem quais fossem. Mas não para a saúde! Não para aqueles que foram marcados pelo azar de ter uma doença com altíssimas taxas de mortalidade e cuja rapidez de tratamento é crucial! Pensarão os contabilistas do governo, nisto? Eles, que logo que dão um espirro podem ir a correr para um hospital privado? Qual será o passo que se segue? É copiar o sistema americano, em que, antes de se começar o tratamento, é visto se o doente pode pagar e se não puder é colocado fora?
       Em Portugal, há muita gente com orgulho de termos sido pioneiros na abolição da pena de morte. E também muitos que criticam os EUA por a terem e a praticarem em boa tarde dos seus Estados. Mas eles aplicam a pena de morte em criminosos e tendo as leis desses Estados como respaldo. Ora nós, que a abolimos e a repudiamos, pelo menos ao nível do Estado, estamos agora a aplicá-la em pessoas inocentes, a quem a Constituição, sempre chamada para tudo e para nada, garante cuidados de saúde atempados e gratuitos. Quem é chamado a responder por estas mortes e por estas inconstitucionalidades?

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