quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O CINISMO DO FMI

  Saiu hoje mais um daqueles comunicados a que o FMI já nos vem habituando, em época de avaliações da troika. Enquanto em Washington, a madame Lagarde ou o sr. Blanchard, dizem coisas piedosas, como, "O FMI enganou-se nos multiplicadores e o seu efeito sobre as economias sujeitas a programas de ajustamento não é de 0,8%, mas de cerca de 1,8%"; ou como hoje, "que é preciso cuidado com a austeridade, que os seus efeitos sobre as economias podem ser muito mais adversos do que se previa" blá, blá, blá, os seus técnicos em Lisboa apertam-nos a tarracha e mostram-se inflexíveis nas metas orçamentais já definidas. Ora isto já ultrapassou a fase da hipocrisia e do cinismo, para passar ao puro gozo com Portugal e os portugueses. Já disse aqui e em outros fóruns, muitas vezes, que todos sabemos e a troika melhor que ninguém, que a receita que nos obrigaram a seguir teria resultados catastróficos sobre a economia e que sendo assim, a única explicação que encontro é a da punição. Mas está a aproximar-se a hora da verdade. Daqui a 9 meses, acaba o programa e toda a gente sabe que Portugal não conseguirá financiar-se sòzinho nos mercados. Mas isso já sabemos desde 2011! O que esses mesmos mercados nos dizem através das taxas que exigem para nos comprar dívida pública, é que não acreditam que Portugal consiga pagar a sua dívida, ou seja, o que ando a dizer há anos e que ouço muitos outros dizer entretanto. A taxa pedida para o prazo de 10 anos já passou dos 7,3%! Ninguém consegue pagar uma dívida que já representa perto de 130% do PIB, a não ser que a economia crescesse a taxas superiores a 4% ao ano. Isso é impensável em Portugal nas próximas décadas. Portanto, estão à espera que não haja dinheiro para pagar a fornecedores, a pensões e ordenados, para então se fazer uma reestruturação da dívida? Ou será preciso sentar os membros do governo, em conjunto com os elementos da troika, os chefes da UE, do BCE e do FMI, na sala magna da universidade de Lisboa e colocar um aluno de economia a dizer-lhes que um país com uma dívida pública de 130% do PIB, com uma taxa de desemprego de 20%, obrigado a fazer todos os anos cortes orçamentais de valor superior a 3 mil milhões, nunca conseguirá sair da recessão e sendo assim a sua dívida nunca parará de crescer e não é pagável? E que o resultado inevitável deste círculo vicioso é a bancarrota ou uma reestruturação da dívida que a evite e a empurre para a frente? Será preciso isso, para perceberem? É que cada ano a mais à espera que percebam, será mais uma década de recuperação para superar...

      Nunca foi tão verdadeira a célebre frase de António Aleixo: " Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico pensando que a burrice é uma ciência"...

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