terça-feira, 3 de janeiro de 2012

"MALABARICES" FISCAIS

Já solicitei uma audiência conjunta ao Sr. Presidente da República e ao Sr. Ministro das Finanças, os dois responsáveis políticos que publicamente manifestaram preocupação sobre a iniquidade fiscal, a fim de pedir autorização para fazer o meu "planeamento fiscal". Atente-se na terminologia utilizada: se um contribuinte individual não pagar um imposto, por exemplo, atrasar-se um dia no pagamento do IUC, tem uma coima imediata de 15€. Isto é fuga aos impostos. Mas se uma empresa arranjar um estratagema qualquer para não pagar ou deslocalizar a sede para outro país, a isso chama-se "planeamento fiscal"... Apenas uma questão semântica! Ora eu decidi, em nome da tão celebrada "equidade fiscal", pedir ao Sr Ministro, permissão para pagar o meu IMI na Somália, país com óptimas taxas aplicadas sobre a propriedade imobiliária. No mesmo estudo que efectuei, descobri condições excepcionais de imposto sobre o rendimento no Mali: decidi pois que passarei a pagar ali o meu IRS. Quanto ao IUC, foi no Nepal que encontrei as taxas mais favoráveis. Conto ir ainda este ano a Katmandu para liquidar pessoalmente o imposto devido, dado que a internet ali funciona muito irregularmente.
A mudança da sede do Grupo Jerónimo Martins para a Holanda, aliás, no seguimento de várias outras grandes empresas, só vem confirmar aquilo que todos sabemos há muito: só a antigamente chamada classe média é que paga impostos. As classes mais desfavorecidas ou a isso equiparadas por falsidade nas declarações, nada pagam; os ricos, como se vê mais uma vez, pagam muito pouco; e sobram os do meio, que pagam por todos. Disse antigamente, porque entretanto a classe média foi extinta em Portugal, redenominada por "tansos fiscais" de que faço parte orgulhosamente.
Na reunião que agendei, vou segredar ao Sr. Ministro que, lá para Maio, não se esqueça de alertar os portugueses que há um grande desvio na execução orçamental, provocada por factores endógenos e que em nome da equidade fiscal, vai ser corrigido com a cativação dos subsídios de férias e de Natal do sector privado. Ah... e estes têm que ser pagos em Portugal!

Tenham um feliz ano de 2012! 

1 comentário:

  1. Concordo plenamente e aproveito a oportunidade para recomendar também o regime fiscal da Faixa de Gaza, parece que por lá a tributação sobre o património imobiliário é de arrasar.

    Rui Pedro Couto

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