quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

QUEM MAIS TEM, MAIS PAGA...

       Soube-se ontem que o governo prepara mais um aumento dos transportes públicos, bem como a reformulação do sistema de pagamento dos passes sociais e dos bilhetes. Ao que parece, vai haver uma diferenciação no preço destes. Pelo que se está a ver, o conceito do "quem mais tem mais deve pagar", é para generalizar a todos os sectores da sociedade. Por este andar, não virá longe o dia em que na padaria terei que mostrar a declaração de IRS para me definirem o preço da carcaça... O princípio, aparentemente está correcto. O problema é que, como todos sabemos, em Portugal o que se passa efectivamente é que "quem mais declara mais paga". Os jovens, que até aqui tinham os bilhetes mais baratos, só vão ter acesso a estes se demonstrarem ter baixos rendimentos. Tal como fazem para ter bolsas de estudo, acesso a residências universitárias e outros apoios sociais, imagino. Serão os mesmos que, em boa parte dos casos, utilizam essas bolsas para renovarem o guarda roupa com boas marcas, adquirirem tablets e que chegam à universidade nos mercedes dos paizinhos, que declaram como único rendimento da família os 485€ da praxe... E que depois quando chegam à idade da reforma se insurgem por haver quem receba pensões de mil e dois mil euros e eles, coitados, mal conseguem sobreviver com uma pensão miserável de pouco mais de trezentos...
       Há um outro princípio agora muito em voga: o do "utilizador-pagador". Foi este que serviu de mote para a introdução de portagens nas ex-SCUT'S. E se concordo que quem não tem carro, ou o tem e não utiliza as autoestradas não tem que pagar com os seus impostos essa utilização por parte de outros, também eu que vivo na "província" não me sinto na obrigação de pagar os crónicos déficits dos transportes públicos que não utilizo. Quando chegar a altura de pagar os mais de quinze mil milhões de dívida do sector dos transportes, todos seremos chamados a fazê-lo. Também eu, que não me sirvo deles...O preço dos bilhetes deve portanto aproximar-se cada vez mais do  custo real do serviço prestado. Estas generalizações na aplicação de princípios que só em teoria pretendem introduzir mais justiça social, estão a abrir a porta a clivagens na sociedade portuguesa e a abrir brechas na coesão e solidariedade nas várias camadas de população, municiadoras de potenciais conflitos que bem dispensávamos.  

Sem comentários:

Enviar um comentário