terça-feira, 11 de março de 2014

O MANIFESTO ANTI-DÍVIDA: MORRA A DÍVIDA, PIM!

     João Cravinho, eurodeputado do PS, desterrado em Bruxelas depois de se ter atrevido a propôr na assembleia da república, iniciativas legislativas para combater a corrupção, juntou agora um grupo de 70 economistas e personalidades conhecidas de outras áreas, que na sua maioria já exerceram cargos de relevância no país. Como eu tenho dito, subitamente todos descobriram que a dívida portuguesa é insustentável. Há vários anos que eu afirmo que esta dívida, face à realidade portuguesa, nunca se conseguirá pagar. Muito antes de 2010, em que chegou aos 100% do PIB, momento em que me convenci de que seria inevitável uma reestruturação. Disse e escrevi na altura, que em situação normal, a partir de 100% do PIB, a dívida esmaga todo o crescimento da economia, sugando a riqueza produzida e tendo efeitos devastadores sobre o emprego. A esta realidade esperada, juntou-se uma das piores crises europeias, que destruiu grande fatia da riqueza portuguesa. Eu ficava a pensar que eu, um obscuro cidadão, andava com o passo trocado, quando ouvia todas estas sumidades afirmar que a dívida era sustentável, alguns diziam que era "gerível"... Pois agora, de repente, todos acham que não e que é mesmo precisa uma reestruturação para que o país possa crescer e sair do buraco. O problema é que o atraso nas decisões, têm custos muito elevados em economia. Há 3 anos que andamos a pagar o atraso na intervenção da troika e quando se fizer uma reestruturação, será muito mais dolorosa do que se já tivesse sido feita. Já afirmei dezenas de vezes que a reestruturação não terá que ser feita necessariamente com um "haircut", solução radical com custos elevadíssimos para o país e que, actualmente, teria um efeito de boomerang, pois a banca portuguesa é agora detentora de boa parte da dívida pública nacional e ficaria de rastos, dependendo de doses maciças de capital para a salvar da falência. Já defendi uma solução que vi agora proposta em moldes parecidos, por um grande economista estrangeiro: a compra da maior parte da dívida pública portuguesa no mercado secundário, pelo BCE, que depois financiaria o país no mesmo montante, mas com uma taxa reduzida, p.e. 1% de spread face à taxa paga pela dívida alemã, e com um prazo muito longo, sempre superior a 50 anos. É a forma mais suave de reestruturar, sem grandes convulsões para ninguém e é a única forma que vejo de deixar Portugal pôr-se de pé, deixar a sua economia crescer sem o torniquete da dívida a sufocá-la e a consumir toda a riqueza produzida. Àqueles que, como o primeiro ministro, acham que uma dívida de 130% do PIB é sustentável, com défices anuais sempre superiores a 4% a necessitar de nova emissão de dívida para o financiar, e crescimentos de 1% ao ano, eu comparo-os com aqueles portugueses que no tempo das vacas gordas, ganhavam 700€, mas gastavam 1500. Começavam por pedir um empréstimo de 10.000€ ao BPI; quando a coisa se complicava com as prestações, pediam 15.000€ ao BCP e amortizavam o do BPI. Depois pediam 20.000€ ao BES e pagavam o do BCP. Quando já tinham corrido todos, ainda havia a Cofidis... Mas entretanto a dívida já estava em valores insuportáveis e ficavam insolventes. Como dizia Sócrates, pensar em pagar a dívida de um país, é coisa de crianças! Enquanto houver alguém disposto a emprestar sempre mais e mais, podemos dizer sempre que a dívida é sustentável. Nem que chegue aos 500% do PIB!! O problema é quando ninguém empresta e a bomba rebenta. Veremos, agora que os "craques" todos da economia descobriram que a dívida é insustentável, o que se vai passar nos próximos tempos. O Manifesto Anti-Dantas terminava com um "Morra o Dantas! Pim!" Neste Manifesto pode talvez ler-se nas entrelinhas "Morra a dívida, pim!"...

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