sexta-feira, 5 de julho de 2013

ESTAREI A FICAR CONTAGIADO PELA INSANIDADE REINANTE?

   Vou fazer aqui uma confidência: estou com receio de andar a ficar contagiado pela insanidade que parece estar a atingir as pessoas que, pensávamos nós, estariam imunes a essa praga dos tempos modernos: aqueles que governam o país e os que se aprestam a fazê-lo. Pois na quarta feira passada, no rescaldo do pedido de demissão de Paulo Portas, como se previa a bolsa de valores de Lisboa deu um trambolhão daqueles de deixar mossa. Houve títulos que durante o dia estiveram a perder 43%, e no final da sessão o índice PSI-20 perdeu 5,5%. Nos telejornais da noite ouvi os jornalistas a falar do impacto desta crise, que as empresas perderam imenso dinheiro, etc. Bem, dos jornalistas eu já espero tudo. Mas a seguir veio António José Seguro, com aquele ar cândido, mostrando-se muito escandalizado com o que se estava a passar, porque as empresas portuguesas só naquele dia tinham perdido 2 mil e seiscentos milhões de euros! E aí, fiquei eu perplexo! Eu já começo a duvidar da minha capacidade de análise, face a tanto disparate que oiço hoje em dia, por vezes tenho que ir digerir com calma, verificar as coisas mais que uma vez, para ver se sou eu ou não que ando com o passo trocado. Foi o caso. Então quem são os donos dos títulos que estão cotados em bolsa? Não está esse capital disseminado pelos pequenos accionistas, pelos fundos de investimento, pelos bancos, pelos fundos de pensões? Esses é que perderiam o dinheiro, não as empresas! E, como eu costumava dizer aos meus colegas há muitos anos, só se perde ou só se ganha, quando se transaccionam os títulos, antes disso são perdas ou ganhos potenciais. Recordo que a entrada em bolsa é, para as empresas, uma boa alternativa ao financiamento bancário tradicional. Isso acontece quando se faz um IPO ( initial public offering) ou uma OPV ( oferta pública de venda) e aí sim, a empresa faz o encaixe financeiro e os títulos passam a ficar na posse dos seus investidores. A partir desse momento as flutuações no seu preço afectam exclusivamente os detentores dos títulos. É verdade que há empresas que possuem títulos próprios, e nesse caso são também afectados, mas na posição de investidores como qualquer outro! Eu começo a duvidar que sei de alguma coisa, hoje em dia, face a tanta barbaridade que oiço a gente que devia ser insuspeita... Para mim, o que esta instabilidade proporciona é uma óptima oportunidade para se ganhar dinheiro, para quem saiba um pouco disto, esteja atento, tenha algum capital, tempo disponível e alguma audácia. O que as cotações reflectem, é o pânico dos grandes investidores internacionais de que o país necessite de um segundo resgate e que, nomeadamente nas obrigações, haja a imposição de perdas aos detentores dessas obrigações. Por isso se desfazem delas a qualquer preço, pressionando os preços em baixa. Com que então as empresas a perder 2 mil e seiscentos milhões de euros, heim? Eu estou a precisar de ir arejar as ideias para fora de Portugal para oxigenar o cérebro em ares menos conturbados...

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